São Paulo, sábado, 7 de junho de 1997
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Ieltsin quer plebiscito sobre corpo de Lênin

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente russo, Boris Ieltsin, quer convocar um plebiscito para decidir se o corpo do líder da revolução bolchevique deve ser enterrado. O cadáver mumificado de Vladimir Lênin, que morreu há 73 anos, permanece exposto em uma mausoléu na praça Vermelha (centro de Moscou).
Ontem, Ieltsin voltou a falar no assunto. "Que o povo decida se se deve enterrá-lo de forma cristã ou deixar as coisas como estão," disse Ieltsin em São Petersburgo, cidade que foi berço da Revolução Russa de 1917 e que já teve o nome de Leningrado.
Ieltsin disse que a praça Vermelha deve "perder seu status de cemitério". A reação foi imediata. "Isso pode provocar um grande conflito social," disse o deputado neocomunista Viktor Iliukhin.
O Parlamento, dominado pelos neocomunistas, aprovou esta semana uma proibição de mudanças arquitetônicas na praça Vermelha. Ieltsin não deve assinar a proibição, o que a torna sem efeito.
Após passar meses doente, entre meados do ano passado e o começo deste, Ieltsin ameaça aumentar a pressão sobre o Parlamento. Ignorar a decisão dos deputados seria uma forma de Ieltsin lembrar a eles que, na Rússia, quem detém o poder real é o presidente.
Os moderados e liberais também são contrários ao enterro de Lênin e toda a confusão que a proposta provoca. "Este país tem mais problemas e preocupações do que o enterro de um corpo mumificado," disse o deputado liberal Vladimir Lukin.
O que está em jogo não é tanto o destino dos restos mortais de Lênin, mas o seu legado político. E não apenas isso. "A sugestão de Ieltsin é um blefe. O plebiscito sobre o corpo de Lênin pode se tornar um plebiscito sobre o destino político de Ieltsin," disse o parlamentar nacionalista Serguei Baburin.
Ieltsin voltou a tocar no assunto num momento em que aumenta a tensão entre o Kremlin e o Parlamento. Correm muitos rumores de que o presidente pode dissolver a Duma (Câmara Baixa) se os deputados continuarem a bloquear as reformas econômicas.
Segundo analistas, a popularidade do governo está em baixa devido à crise econômica, e Ieltsin não tem nada a ganhar com eleições parlamentares agora. Os rumores seriam apenas uma forma de pressão sobre a Duma. Levantar a questão do plebiscito pode ser parte dessa pressão.
Desde a dissolução da União Soviética, em 1991, o assunto do enterro de Lênin volta à tona eventualmente, provocando fortes paixões. Em 1993, no auge do confronto com o Parlamento, que culminou no bombardeio do prédio e na morte de mais de 300 pessoas, Ieltsin disse que Lênin seria enterrado "em algumas semanas".

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