São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Explode consumo de droga nos canaviais

WAGNER OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOTUCATU

Adolescentes que trabalham nos canaviais da região de Botucatu (225 km de SP) estão adotando o consumo de crack como forma de aumentar a produtividade e, assim, ganhar mais.
"O consumo da droga entre os jovens vem crescendo em ritmo acentuado", disse o médico Igor Vassilieff, especializado em toxicologia e diretor do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica).
O centro, ligado ao departamento de Biomédicas da Unesp de Botucatu, realiza anualmente uma pesquisa com jovens cortadores de cana nas fazendas da região.
Em 96, o centro registrou 42 usuários. Em 95, haviam sido registrados 14 casos e, em 90, apenas dois. Os usuários são submetidos a tratamento de desintoxicação, oferecido pelo próprio centro.
"Quem trabalha na roça, procura o crack para trabalhar mais, pois a droga produz um efeito antifadiga. Na cidade, o uso da droga é por influência de amigos, por diversão ", afirma Vassilieff.
"Mas, depois, o jovem do campo tem de abandonar logo o serviço na lavoura, pois os efeitos da droga acabam debilitando-o."
Os jovens que passam pelo Ceatox são submetidos a uma bateria de exames para se saber o grau de toxinas existente no organismo do usuário.
Eles recebem acompanhamento médico, psicológico e, quando necessitam, são encaminhados a entidades que oferecem atividades para recuperar viciados, como terapias ocupacionais e espirituais. O Ceatox atende jovens de cerca de 20 cidades na região de Botucatu.
Na maior parte dessas cidades, a cana-de-açúcar é uma das principais atividades econômicas.
Em Igaraçu, uma das cidades em que o Ceatox prestou serviço a jovens ligados ao corte de cana, 90% da população está envolvida com a atividade canavieira.
O promotor da Infância e Juventude da cidade, Luiz Guilherme Gomes dos Reis Sampaio Garcia, disse que o consumo de drogas entre os jovens carentes é um dos grandes problemas da cidade.
"Nós sabemos que a droga está no campo e na cidade e que é um trabalho difícil combatê-la", afirmou. Ele disse que o baixo preço do crack facilita o uso da droga entre os jovens mais pobres, também entre filhos de lavradores. Na cidade, uma pedra da droga é vendida por cerca de R$ 5.
Desconhecimento
O presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), Sérgio Ometo, disse desconhecer o problema do crack especificamente nos canaviais.
"Hoje, todos nós sabemos, a droga está em todo lugar", afirmou. A Unica representa 122 usinas no Estado e foi criada recentemente para fortalecer o setor.

Texto Anterior: Público enfrenta o medo e lota shopping no fim-de-semana
Próximo Texto: Estatística revela crescimento do tráfico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.