São Paulo, segunda-feira, 9 de junho de 1997
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O meu amado tinha indignações enormes

O meu amado tinha indignações enormes

O meu amado tinha indignações enormes.
Andava de um lado para outro em minha frente:
não se conformava com os conformados, os corruptos,
os medíocres e os vendidos deste mundo.
Não se conformava com a miséria, a dominação, o desvalimento.

Não se conformava também quando não o entendiam.
Passava as mãos pelo cabelo grisalho
e ardia como um jovem de dezoito anos na sua ira:
"Tenho vocação é de terrorista."

(Eu escutava, com medo de que ele saltasse da varanda
levado pelo vendaval de seu furor de justo.)

Depois, ele fechava as portas de vidro sobre a noite quente,
me pegava pela mão, dizia:
"Vamos dormir."

E então era todo mel e ternura.

Lya Luft

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