São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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Meirelles aproxima fronteiras no Hilton

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um show fronteiriço acontece a partir de hoje no teatro Hilton, região central da cidade.
Trata-se das apresentações de Helena Meirelles, 73, violeira nascida no Mato Grosso do Sul que se divide, musical e geograficamente, entre Brasil e Paraguai, entre a toada e a guarânia, entre o tosco e o lapidado.
Mais do que uma virtuose da viola pantaneira, Helena Meirelles é uma contadora de histórias musicais.
É o registro vivo de um período histórico e musical de um Brasil desconhecido nos grandes centros.
Trafega em um terreno onde a honestidade supera a velocidade, o acabamento pasteurizante e as vicissitudes do estrelato.
Até o próximo dia 26, Meirelles concentra, em uma hora de show, o repertório que usava para animar as festas dos peões e as noites nos prostíbulos pantaneiros.
Inocência e sensualidade
E é essa fusão de festa inocente com sensualidade rústica que chama a atenção na música da violeira sul-mato-grossense.
Como um compêndio da música de sua terra natal, Meirelles não é o que se pode chamar de revolucionária. Reservou a rebeldia para o próprio ato de tocar.
Quando começou, encontrou forte resistência paterna, apesar da frequente presença de violeiros paraguaios em sua casa. Além disso, um irmão e um tio começaram a tocar.
Para despertar de vez o interesse musical na menina, um violeiro paraguaio deu uma viola para Meirelles.
Ela tinha de tocar escondido, pois seu pai dizia que uma mulher violeira só iria ficar "se esfregando nos homens" e ameaçou cortar seus dedos.
Mas não era tão difícil assim escapar da fúria do pai, que passava a maior parte do dia cuidando da lavoura.
Quando deu por si, o pai de Meirelles encontrou uma violeira formada, já sob a proteção daquele tio que aprendera também a dedilhar o instrumento.
Veio o primeiro casamento e, com ele, nova repressão. Temendo assédios masculinos, o marido de Meirelles -apesar de dividir seu tempo entre a mulher e uma amante- a proibia de se apresentar para os peões. Foi abandonado pela violeira.
Começou então um período que juntou trabalho em prostíbulos, várias bebedeiras, relacionamentos efêmeros e o começo de uma coleção de filhos, que chegou ao total de 11.
Com o desejo de reagrupar a família -o que acabou acontecendo em São Paulo-, a violeira encontrou o jornalista Mário de Araújo, que a levou ao programa "Viola, Minha Viola" (apresentado por Inezita Barroso), em 1986. Os resultados foram pífios.
Sete anos depois, o mesmo Mário de Araújo enviou uma fita à revista norte-americana "Guitar Player", e a situação mudou.
Chamada de primeira-dama da viola por um crítico da revista, Meirelles conquistou respeito no Brasil.
Essa história aparece em cada acorde que a violeira registrou em seu segundo CD, "Flor da Guavira", lançado no ano passado pela gravadora Eldorado e que deve fornecer as toadas, polcas e guarânias que serão executadas no teatro Hilton.

Show: Flor da Guavira, com Helena Meirelles
Quando: de hoje a 26 de junho, quartas e quintas, às 21h
Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165, região central da cidade, tel. 259-6508) Quanto: R$ 15

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