São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 1997
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PARTIDOS SEM ROSTO

O PSDB, partido do presidente Fernando Henrique Cardoso, lança o documento "PSDB no divã" (o nome é sugestivo), na tentativa de retomar alguma espécie de ofensiva em relação aos espaços políticos que vem perdendo principalmente para o PFL no governo federal.
Em São Paulo, o PFL contempla tanto a hipótese de lançar candidato próprio à sucessão de Mário Covas (PSDB) como também as de apoiar o próprio governador peessedebista ou, ainda, Paulo Maluf, do PPB.
O PMDB, cindido entre governistas (com ministérios) e oposição (principalmente Quércia), parece ter perdido completamente o seu norte.
Não é preciso retroagir muito na história do Brasil para lembrar que do bipartidarismo imposto pelos governos militares surgiram como grandes legendas o PDS (atual PPB de Maluf) e o PMDB. Uma ruptura no PDS, devida justamente à candidatura de Maluf à Presidência, deu origem ao PFL. Também o PSDB é uma cisão do PMDB: aqueles que se consideravam mais éticos, condenando certas práticas do partido, preferiram abandonar a legenda-mãe e fundar uma agremiação própria.
Diante desse quadro, ou bem se esquece toda a história política recente do país, ou chega-se à conclusão de que, para os partidos em geral, o que menos importa são idéias, plataformas e programas. Prevalece a lógica da subsistência e da manutenção de postos (cargos) de influência.
Ao que tudo indica, parece que se vai constituindo um grande partido da situação, que congrega todo tipo de interessado em aproveitar o consenso criado pela estabilização da moeda; as legendas se tornam conveniências para distinguir meras disputas de poder regionais. As diferenças de fato, que podem ser observadas na dificuldade enfrentada pelo governo para aprovar no Congresso seu plano de reformas, se devem menos a discordâncias ideológicas de fundo do que ao vínculo de parlamentares a interesses localizados, comumente eleitoreiros. O resto da disputa é pelo loteamento de cargos.
Na oposição, o PT e seus microagregados, obnubilados pela crise da esquerda e sem uma proposta sólida de governo, limitam-se a gritar e expiar seus próprios pecados.
O que vem sendo chamado de ocaso das ideologias pode até ser considerado um fenômeno mundial, mas se aplica de modo bem mais contundente no Brasil -e com especificidades lamentáveis-, onde os inimigos de ontem tornam-se os aliados de hoje e talvez êmulos de amanhã.
Importa tudo, menos o apego a uma idéia, a sua persecução e vínculos orgânicos com a sociedade. Nessas condições, parece difícil que o país venha a superar seu atual estágio de subdesenvolvimento político.

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