São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997 |
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Debate aprova crua tragédia de Amaral
DANIELA ROCHA
O filme busca mostrar a tragédia vivida por Dalva, uma cabeleireira, e seu ex-noivo, Vítor, um metalúrgico desempregado. Toda ação, tensão e violência acontecem dentro de uma casa, na Mooca. A câmera é nervosa, ágil. Os "takes" são quase sempre próximos dos atores. Após a exibição especial do longa de estréia de Tata Amaral, sentaram-se à mesma mesa a diretora, os cineastas Murilo Salles ("Como Nascem os Anjos") e Jorge Furtado ("Ilha das Flores"), o autor do romance "Um Céu de Estrelas", Fernando Bonassi, e os roteiristas do filme, Jean-Claude Bernardet e Roberto Moreira. A mediação foi feita pelo crítico de cinema da Folha, Inácio Araujo. Quem abriu o debate foi Tata Amaral. Segundo ela, o filme "Um Céu de Estrelas" buscou unir os itens economia, tecnologia e dramaturgia. "Queria fazer um filme viável, em super 16, e com uma proposta dramática tensa e concentrada, como é a história de Fernando Bonassi", afirmou. Para Jean-Claude Bernardet, o termo nova dramaturgia do cinema é "forte demais". "O que o filme traz de novo é a inexistência da relação causa e efeito na construção do enredo. É o acaso que empurra os personagens sem que eles queiram ou percebam." O foco dramático que, no livro, está no personagem masculino foi para o personagem feminino, no filme. "O filme é o carbono do livro. No livro, a mulher é praticamente um objeto de cena", esclareceu Fernando Bonassi. "Trabalhamos Dalva como uma personagem bipartida. Ela quer expulsar o homem da casa e, ao mesmo tempo, tem um frenesi sexual que a empurra a ele. Mostramos apenas como ela se comporta, sem procurar uma explicação lógica", disse Bernardet. "A novidade do filme são as situações-limite, com narrativa ancorada em procedimentos não tradicionais", disse Roberto Moreira, co-roteirista. O cineasta Murilo Salles afirmou ficar "tomado" pelo filme. "A vida é caótica, e se usarmos o instrumental cartesiano de causa e efeito não responderemos nada", disse. Para Jorge Furtado, "Um Céu de Estrelas" tem a qualidade de ser o "filme que estraga o dia". "Isso é importante." Furtado disse discordar de tudo o que os debatedores disseram sobre o filme. "Para mim, o que o filme traz de novo é o fato de ser bom." Furtado disse que o debate menosprezava a engenharia da narrativa. "Há muita leitura estética e pouco se fala da feitura mecânica da narrativa." Para ele, o artesanato é fundamental. "Esse lado da máquina, que é quase burocrático, que é a narrativa, faz com que os espectadores saiam do cinema transformados." Ele discutiu a noção de acaso. "Toda história é uma 'co-incidência' de desejos, intenções, lugares. Busco os motivos dos personagens. Isso faz com que me interesse pela história e torne os personagens reais." Tata Amaral comentou sobre a atuação dos atores Alleyona Cavalli (Dalva) e Paulo Vespúcio Garcia (Vítor). "Eles emprestaram suas emoções aos personagens." Sobre a câmera agitada, disse: "Queria que o espectador passasse por aquela experiência. A câmera anda, roda, segue Dalva. O importante era não usar esse tratamento de forma desintegrada da história". Texto Anterior: "Um Céu de Estrelas" confronta solidão social Próximo Texto: 'O Prisioneiro das Montanhas' é antiépico russo Índice |
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