São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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Argentino "Música Feroz" desperta eco de 1968

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

A maior vantagem da tímida chegada de filmes argentinos até nós, ainda que a conta-gotas -e graças ao Mercosul-, é oferecer uma variação à dieta hollywoodiana normalmente proposta pelas distribuidoras.
"Música Feroz", em cartaz a partir de hoje, nos introduz à biografia de um estudante de filosofia e compositor de rock argentino formado na rebeldia dos anos 60, que morreu, nos anos 70, durante o regime militar, sem perder sua rebeldia e, a julgar pelo filme, justamente por sua fidelidade a ela.
A história poderia, sem enormes retoques, ter acontecido no Brasil.
Ao mesmo tempo, "Música Feroz" nos reconduz a esse realismo passivo que parece ser a marca do cinema na era da globalização.
No mais, o diretor-roteirista Marcelo Piñeyro não é nenhum Eliseo Subiela, para compará-lo a um cineasta argentino de peso.
Aí entra a parte difícil dessa experiência.
E, enquanto os personagens falam, em vez de agir, a força do filme vai se escoando.
Com isso, em vez de evocar o espírito libertário de 68, como parece ser a intenção, o filme desperta não mais do que um eco distante -ou, quando muito, um fantasma da liberdade.
A música de Tango -Tanguito para os amigos- também não ajuda muito. Quase sempre parece uma versão portenha de Jerry Adriani: é sentimental e gritada.
Resumindo: falham os diálogos, a música assusta, a concepção e a filmagem são quadradas. E nem por isso ver "Música Feroz" é uma experiência estéril.
Alguns momentos justificam o filme. O primeiro, quando o protagonista e sua namorada, Mariana, dançam um tango nus: uma cena em que a beleza -física e moral- dos personagens explode na tela com força e sem pudor (a idéia podia ter sido mais bem trabalhada).
Outro, a sequência em que Tango, no metrô, topa com um grupo de neonazistas. Aí, a mudança de tom é muito bem preparada e executada.
Por fim, a morte de um personagem (não vem ao caso dizer qual) prepara e executa um choque salutar com eficácia.
Enfim, quando "Música Feroz" esquece a literatice e o bem-fazer, nos diz algo. Isso sem contar os momentos em que Mariana está em cena: Cecilia Dopazo é uma belíssima ruiva e uma atriz sensível. Imanol Arias (Angel, o presidiário basco) também se destaca. Fernan Mirás (Tango) raramente os acompanha.

Filme: Música Feroz
Produção: Argentina, 1993
Direção: Marcelo Piñeyro
Com: Fernan Mirás, Cecilia Dopazo, Imanol Arias, Hector Alterio
Quando: a partir de hoje, nos cines Top Cine 2, Eldorado 5 e Aricanduva 1

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