São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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O efeito Tony Blair

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - A foto de Lula, Arraes, Brizola e João Amazonas discutindo a união das esquerdas em 98 não assusta o governo nem acrescenta novas tintas ao quadro eleitoral de 98. Inclusive porque na legenda está dito que Lula deverá ser o candidato único.
Na avaliação de amigos de Fernando Henrique, quanto mais a esquerda se identifica com o passado, melhor. Com todo o respeito, o que pode parecer mais passado, ou ultrapassado, do que João Amazonas e seu PC do B?
Depois de duas derrotas consecutivas, Lula está como os outros adversários potenciais de FHC: até agora, não dá para o gasto. Alguns aliados, porém, alertaram o presidente para não descartar um novo nome, com alguma juventude, um quê de surpresa, muita ousadia e discurso fortemente social. Se não for do PT, mais perigoso ainda. Do PSB, por exemplo.
Não bastassem as vitórias do trabalhista Tony Blair na Inglaterra e do socialista Lionel Jospin na França, o que fortalece essa avaliação -ou temor- é o próprio exemplo interno das últimas eleições presidenciais. O Brasil adora "fatos novos".
Em 89, Fernando Collor saiu lá de Alagoas e com algumas piruetas verbais esmagou Lula e mitos como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola e Mário Covas. Em 93, Lula parecia tão imbatível que o Congresso não aprovou uma fórmula então consensual: cinco anos de mandato, ou quatro com reeleição. Quem venceu um ano depois foi FHC. E no primeiro turno.
Para sorte do atual governo e de seu candidato, o eleitorado está mais desconfiado e já não engole um novo "caçador de marajás" tão facilmente. Nem há novas mágicas como o Real.
Além disso, a própria esquerda acaba inviabilizando uma aliança em torno de um novo personagem. A começar pelo PT, que muito dificilmente engoliria uma chapa na qual lhe coubesse apenas o vice.
Pelo sim, pelo não, FHC e alguns de seus estrategistas parecem se lembrar de que eleição não se ganha na véspera, muito menos um ano e meio antes. Quem viveu o trauma de sentar-se na cadeira de prefeito antes da hora jamais deve esquecer a lição.

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