São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 1997
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Lyon, Rio

LUIZ CAVERSAN

Lyon - Em sua viagem ao Rio no ano passado, onde esteve para selecionar as três peças que viriam representar o Brasil na Bienal de Teatro para o Público Jovem de Lyon -ora em curso e acompanhada de perto por este jornalista-, um dos diretores do evento, Maurice Yendt, levou um susto.
Para ele, foi mais que uma surpresa constatar que, sem o apoio decisivo da iniciativa privada, via patrocínios diversos, o teatro para a criança e o jovem seria praticamente inviável no Brasil.
Num país como a França, em que até a água mineral é considerada de utilidade pública -caso da Perrier-, isso é inconcebível.
Sim, porque, por aqui e há muito tempo, patrocinar a cultura é uma obrigação do Estado.
"Todo cidadão deve ter direito à cultura assim como tem direito à água que bebe", disse Yendt em conversa no Palácio da Bienal, à beira de um dos rios -limpos- que cercam esta cidade milenar da França.
A conversa veio a propósito de as três peças brasileiras estarem na França sob os auspícios de uma multinacional, a Coca-Cola.
O pessoal de teatro por aqui não gosta muito de as empresas se imiscuírem nas coisas culturais. Acham que é assunto para artistas e público, com a intermediação -aliás, garantida na Constituição francesa- do Estado.
Colocada a questão, Yendt saiu, digamos, à francesa. Disse que qualquer um que coloque dinheiro no teatro destinado ao público jovem é respeitável.
De fato, o chamado marketing cultural é um exotismo que a França olha à distância. Ainda mais agora que os ventos do socialismo redivivo voltam a soprar forte, vindos dos lados do gabinete ocupado pelo premiê Jospin.
O monetarismo se foi e a tal modernidade dos neoliberais é assunto de ontem. Hoje, só se fala no cancelamento de privatizações e na criação de empregos públicos, custe o que custar à contabilidade do Estado.
Para um evento teatral que reúne gente do mundo todo à custa do Estado francês, é uma festa.
"Voilà".

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