São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 1997
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Impasse momentâneo na política

LUÍS NASSIF

A sucessão de escândalos que chacoalhou o país, nos últimos meses, acabou levando a classe política e a opinião pública à uma perda extraordinária -embora momentânea- de enfoque.
Com as leis atuais, Estados e Municípios não conseguem comprimir mais suas despesas com pessoal e gerar investimentos que dêem à sociedade retorno sobre os impostos pagos.
A reforma administrativa não é um tema que interessa apenas ao governo federal, mas a todas as instâncias administrativas e aos governantes atuais e futuros, de qualquer partido.
Prefeitos, governadores, contribuintes em geral eram os aliados naturais das reformas. No entanto, os corredores do Congresso só abrigaram os grupos organizados, que semanas antes das votações já faziam vigília em defesa de seus interesses.
Em parte, a perda de foco atual decorre do estado de prostração do presidente da República, depois da eclosão do episódio da compra de votos.
Fernando Henrique Cardoso, que tanto critica a ciclotimia brasileira, periodicamente é vítima de sua própria ciclotimia. Nos momentos das grandes vitórias -como nas eleições presidenciais e na aprovação da emenda da reeleição pela Câmara-, inebria-se com elas, em vez de aproveitar para avançar politicamente.
Nos momentos de derrotas, cai em prostração.
Vitoriosa a emenda da reeleição, em vez de articular o grande discurso nacional em favor das reformas, o presidente preferiu abusar do pragmatismo, indicando ministros pouco comprometidos com a noção de modernização.
A busca de uma super segurança política fê-lo minimizar a importância do discurso público.
Oposição perdida
Na outra ponta, a oposição está mais perdida que nunca.
A sucessão de escândalos -contra e a favor- criou o clima de paroxismo adequado aos setores mais anacrônicos que praticam o vale-tudo político, tanto no governo quanto na oposição.
A prova é que, ao mesmo tempo em que fulminavam seus dois governadores -ao lhes negar o direito de efetuar o ajuste em suas respectivas máquinas estaduais- parlamentares petistas de cabeça aberta comemoravam a "derrota do governo".
Em uma eleição majoritária, esse tipo de discurso não impressionará ninguém.
Desânimo
O que abre a possibilidade de Fernando Henrique Cardoso ser reeleito, não mais como o melhor, mas como o menos ruim.
Esse cenário desanima profundamente aqueles que ainda acreditam que, algum dia, este país se comportará com um mínimo de objetividade.
De qualquer modo, vive-se, neste momento, aquele passo atrás, inevitável, que se sucede a dois passos à frente.
Em 1996, Fernando Henrique refez-se dos erros do ano anterior e demonstrou capacidade de reação e de não se desviar dos objetivos iniciais propostos, de completar essa travessia interminável rumo a um Estado moderno.
Mas é bom que comece logo a virar o jogo e entre novamente na luta.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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