São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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Câmara vota hoje lei que regula telecomunicações

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Seis meses depois de ter sido encaminhado ao Congresso Nacional pela Presidência da República, será votado hoje na Câmara o projeto da nova Lei Geral das Telecomunicações, que autoriza a privatização do Sistema Telebrás e cria o novo órgão regulador: a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
O texto do relator, Alberto Goldman (PMDB-SP), irá para votação com dois pontos polêmicos: a possibilidade de restrição ao capital estrangeiro e a competição entre a telefonia celular e o "trunking" digital, que esquentaram a guerra de "lobbies" na Câmara.
O artigo 18 (parágrafo único) do projeto autoriza o Executivo a estabelecer limites para participação estrangeira no capital das operadoras de serviços de telecomunicações, em caso de interesse nacional.
O texto não fixa percentuais. O Executivo receberá uma procuração em branco do Congresso para estabelecer os limites quando julgar necessário.
O deputado Roberto Campos (PPB-RJ) e parte das bancadas do PPB e do PFL se movimentam para derrubar o artigo, com o argumento de que a Constituição já não faz diferença entre empresas nacionais e estrangeiras sediadas no país. O governo, por sua vez, não abriu mão da prerrogativa de fixar limites.
O relator reuniu-se ontem à tarde com as lideranças dos partidos. Depois do encontro, Goldman disse à Folha que continuava não havendo consenso sobre o capital estrangeiro e que a questão seria definida pelo plenário.
"Trunking"
A guerra entre a telefonia celular e o "trunking" foi menos explícita do que a da participação estrangeira, apesar de mais feroz porque envolve interesses de estatais e de grandes empresas privadas nacionais e internacionais.
A queda-de-braço começou com a chegada de empresas estrangeiras no mercado para explorar o serviço de "trunking" com tecnologia digital.
O "trunking" é um sistema de comunicação empresarial interna por rádio, como os usados por frotas de táxi e pela polícia. Com o desenvolvimento da tecnologia digital, virou um celular sofisticado.
Para funcionar como telefone, porém, depende da conexão com a rede pública de telefonia e foi aí que se deu o embate na Câmara.
A lei mínima das telecomunicações, de julho do ano passado, garantiu a interconexão (parágrafo único do artigo 12), sem restrições, às empresas de "trunking".
O projeto da lei geral feito pelo governo, porém, revogava o artigo e previa uma interconexão limitada ao "estritamente necessário à prestação do serviço". Os parâmetros para interconexão seriam fixados pelo órgão regulador.
Interesses
No segundo substitutivo do relator, aprovado em maio, o texto sofreu uma sutil mudança e o artigo 12 da lei mínima voltou a ter validade. O autor da emenda foi o deputado Arnaldo Faria de Sá (PPB-SP), mais ligado a assuntos de Previdência.
Em entrevista à Folha, o deputado contou que foi procurado pela (ABTM) Associação Brasileira de Telecomunicações Móveis, que representa as empresas de "trunking", e que se convenceu de que elas precisam ter a interconexão garantida em lei.
Faria de Sá disse que teve vários encontros com representantes das empresas e que foi informado de que elas já investiram mais de US$ 500 milhões em equipamentos. O deputado apresentou outras emendas em favor do "trunking" e disse ver com suspeitas os consórcios que disputam a banda B: "Se puder atrapalhar a banda B, estou ajudando", disse Sá.
O PFL e o PMDB, por sua vez, pressionam pela revogação do artigo 12 na lei geral. O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) tem sustentado que o "trunking" digital vai concorrer com a banda B, sem pagar pelas concessões. Goldman disse que defenderá a revogação do artigo em plenário, com apoio do Ministério das Comunicações.

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