São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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De cima, seleção só exibe a sua face esquerda

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"A última imagem é a que fica", sentenciou sabiamente Leonardo ao microfone da Globo, jogo findo, dignidade resgatada graças a um lance construído por ele com as exatas medidas de raça, esperteza, técnica e eficiência, quando o vexaminoso empate com o México parecia definitivo.
É verdade: o que ficou da performance de Leonardo, por certo, é essa heróica imagem, com retoques de alta sofisticação: bola perdendo-se pela lateral, sob a proteção do lateral mexicano; o bote de Leonardo, o giro sobre o adversário, o espaço e o tempo; a sequência de dribles e o disparo no ângulo.
Só falta encaixar a imagem numa moldura nobre e pendurá-la na galeria dos históricos gols deste mágico futebol.
Deixemo-la, pois, ali, neste instante de sagração do talento individual do jogador brasileiro, para que as gerações futuras desfrutem de tão grata memória, e caiamos na real: Leonardo jogando ali na meia, avançado, sobretudo pelo lado direito (por sinal, cenário da imagem irretocável), não dá.
É evidente seu desconforto em matar a bola de costas para a área inimiga, em desenvolver jogadas elementares que exijam a utilização do pé direito, em manter o ritmo harmonioso e constante, atributos intrínsecos de um verdadeiro organizador.
Olhe de cima e verá o time de uma só face: a esquerda. A direita está ali, paralisada, inerte, hirta, como fruto de um derrame. Dá leve sinais de vida porque Cafu, com aquela energia incontrolável, o tempo todo tenta irrigá-la, numa solitária e patética ação. Claro.
Pois Flávio Conceição -o único que se aventura, às vezes, por ali- é apenas um médio marcador de imaginação e técnica limitadas.
Como dizem os orientais há milênios, o segredo é o equilíbrio. E Zagallo já tem idade suficiente para ter aprendido isso. Mas não aprendeu, pois duvido que se aproveite das circunstâncias para, amanhã, diante da Colômbia, buscar o equilíbrio perfeito da equipe.
Para tanto, basta recuar Leonardo como segundo volante, no lugar de Flávio, suspenso, e meter o destro Giovanni -mesmo estando longe de sua forma ideal- na meia-direita.
Ah, sim, e pelo amor de Deus não mexa em Denílson. Deixe o menino jogar sua bola-de-meia, que é uma bênção.
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Quanto à zaga, vale o mesmo princípio. No elenco, Zagallo dispõe de dois centrais -Célio Silva e Aldair- e dois quartos-zagueiros -Gonçalves e Márcio Santos. Por que cargas d'água não segue a regrinha elementar: um central ao lado de um quarto-zagueiro?
Isso sem se falar na qualidade individual de cada. Mas, que diabo, numa emergência, quando o barco está adernando, o bom senso indica o rumo: cada macaco no seu galho.
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Há dois craques excepcionais em disponibilidade no mercado mundial, ambos do Milan em depressão: o montenegrino Savicevic e o italiano Roberto Baggio. Ah, se eu tivesse a grana de um banco Excel ou de uma Parmalat...
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Não disse aqui, há tempos, que Denílson cavaria um lugar nesse time? Sem mistérios: é o craque que participa.

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