São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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De tribos e tupiniquins

CLÓVIS ROSSI

Amsterdã - Talvez seja em reuniões internacionais que fique mais evidente o conflito cultural, digamos, entre a globalização de que tanto se fala ou os esforços de integração regional e a natural tendência do ser humano para o tribalismo.
Em Amsterdã, estão reunidos os 15 países que compõem a UE (União Européia), certamente o mais avançado processo de integração. Mas a separação em tribos é muito nítida.
Os jornalistas (3.000 credenciados) se agrupam conforme sua turma. Espanhóis com espanhóis, finlandeses com finlandeses, alemães com alemães e assim por diante.
Nos "briefings" (sessões informativas em que, geralmente, não se menciona o nome do "briefador"), usa-se a língua de cada qual. Só no salão dos anfitriões holandeses é que há equipamento de tradução simultânea.
No domingo, fui ao "briefing" do primeiro-ministro da Suécia. Não foi dita nem mesmo uma vírgula que não fosse em sueco, que não é exatamente o mais universal dos idiomas.
No almoço, idem. Aliás, por muito que um dos mais fortes mandamentos do capitalismo diga que não há almoço grátis, esses convescotes internacionais desmentem. Os jornalistas almoçam de graça, sim, e ainda por cima a bordo de barcos ancorados num canal do Amstel, o rio que dá parte do nome a Amsterdã (o "dã", ou "dam", vem de "represa").
Mesmo os jornais mais sérios e respeitáveis acabam dando um sabor nacionalista a seus textos, exatamente porque dependem, principalmente, das informações de seus próprios governantes. O "Financial Times" de ontem, por exemplo, lasca o título "Grã-Bretanha ajuda a manter união econômica e monetária nos trilhos".
O diabo é que, da tribo tupiniquim, o único tonto aqui sou eu. Cada vez que alguém lê "Brazilie" na minha credencial, o olhar de espanto me diz que ainda estamos fora do mundo.

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