São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 1997
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Calma, não está em rede

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Logo no início do seu depoimento ontem, Sérgio Motta quis saber: "Está em rede?".
Não sei se foi essa a frase. Mas deve ter sido algo parecido. Tanto que os assessores governistas se apressaram para descobrir o que atormentava o ministro. Logo souberam que as TVs presentes no local não estavam transmitindo ao vivo -exceto a Radiobrás.
"Calma, ministro. Não está em rede", deve ter sido a provável resposta que alguém levou a Sérgio Motta.
Esse é um dos exemplos sobre as preocupações prosaicas do ministro ontem. No mais, estava calmo.
Já sabia que os petistas fariam barulho. Que seria elogiado pelos governistas. E que o relator do processo da compra e venda de votos, Nelson Otoch (PSDB-CE), lhe daria mole.
Tranquilo e protegido, Motta se deu bem. Seguiu o roteiro já ditado, pelo menos em parte, por seu sócio FHC: 1) Disse nada ter a ver com a compra de votos a favor da emenda da reeleição; 2) atacou a Folha e seus jornalistas; 3) alegou que nas fitas não constam citações diretas a seu nome.
Sobre os pontos 1 e 2, é a defesa que qualquer acusado tentaria fazer. O curioso é o ponto número 3.
Mais de uma vez, inclusive nesta página 2 da Folha, já foi explicado que são claras as citações sobre Sérgio Motta feitas pelos ex-deputados João Maia e Ronivon Santiago.
"Pelo que eu sei bem é o seguinte: eram os 200 do Serjão, via Amazonino, que era a cota federal", disse João Maia. Essa foi uma das frases claras e diretas sobre compra de votos.
Mas, para o ministro, falta clareza. Não se trata de citação direta. "Os 200 do Serjão", para Serjão, é algo vago.
Apoiado por governistas, Sérgio Motta repetiu seu argumento "ad nauseam". Como se, ao repetir, pudesse tornar verdade aquilo que fala.
E parece que assim será. Essa história de compra de votos, descobri ontem, foi apenas um erro de interpretação semântica da Folha. Só isso.
Perdão, leitores. Como disse o ministro, a reportagem da Folha foi uma "vergonha" para a mídia nacional.

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