São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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Máfia chinesa pode ter matado coreanos

OTÁVIO CABRAL

OTÁVIO CABRAL; DIANA ALTERATS
DA REPORTAGEM LOCAL

Disputa entre grupos rivais dos dois países asiáticos seria responsável por tiroteio em restaurante de São Paulo

DIANA ALTERATS
Uma máfia chinesa pode estar envolvida no tiroteio que resultou em duas mortes no restaurante coreano Eve, no Cambuci (região central de São Paulo), na madrugada de anteontem.
Além dos dois mortos, cinco pessoas ficaram feridas. Inicialmente, a polícia creditou o crime a uma disputa entre dois grupos rivais de sul-coreanos.
A hipótese da participação da máfia chinesa foi levantada ontem pela família de um dos coreanos baleados.
Comerciantes sul-coreanos instalados no Bom Retiro (região central) confirmam a versão.
A Folha apurou que a Polícia Federal também recebeu informações sobre a chegada de supostos criminosos chineses a São Paulo e estaria investigando a participação deles no crime de anteontem.
Disputa
Segundo uma estudante que se identificou apenas por Adriana, filha de um dos baleados, a máfia coreana atua em São Paulo desde a década de 70. "A máfia tem o apoio da comunidade e dá proteção aos comerciantes coreanos", afirmou Adriana.
Mas, há cerca de três meses, mafiosos chineses que moravam em Seul (capital da Coréia do Sul) teriam chegado a São Paulo e passado a disputar território com os mafiosos coreanos.
"Eles querem dinheiro em troca de proteção. Os chineses ligam toda hora fazendo ameaças como espancar, estuprar e destruir nossos negócios. Quem não paga, apanha", afirmou outra familiar de um coreano baleado.
Na sexta-feira da semana passada, a máfia chinesa teria invadido um karaokê de coreanos na Consolação (região central), pois os donos não teriam pago a propina exigida por eles.
Três comerciantes sul-coreanos foram espancados pelos supostos mafiosos chineses.
Então, segundo Adriana, os mafiosos da Coréia -jovens que fazem a segurança das lojas dos coreanos nos bairros do Bom Retiro e Brás- resolveram se armar e enfrentar os chineses.
"Os coreanos são como uma família: os mais velhos cuidam dos jovens como se fossem seus filhos, dando casa e comida. Em troca, eles recebem a proteção dos moços", explicou.
Na madrugada de anteontem, houve o conflito entre as duas supostas máfias, no restaurante Eve. Todas as vítimas da troca de tiros seriam do grupo coreano.
Os chineses teriam conseguido fugir sem ser atingidos.
Preocupação
Um sul-coreano que se identificou como Paulo, dono de uma agência de turismo e câmbio no Bom Retiro, afirmou que a comunidade está preocupada com a disputa entre as duas máfias.
"É lógico que os mafiosos coreanos não são bons, mas eles contam com o apoio da comunidade, pois ajudam os mais carentes, constroem igrejas, escolas e hospitais", explica Paulo.
Para ele, a ação dos mafiosos é semelhante à dos traficantes dos morros do Rio de Janeiro.
"Essa guerra não vai acabar tão cedo, pois os coreanos vão vingar a morte de seus conterrâneos."

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