São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Itamar sinaliza que deve disputar em MG

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O ex-presidente Itamar Franco deu ontem os primeiros sinais de que está considerando a possibilidade de se candidatar ao governo de Minas Gerais, com o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, em vez de desafiá-lo na sua tentativa de reeleger-se.
Depois de 70 minutos de conversa reservada com FHC no Hotel Intercontinental, em Nova York, Itamar falou muito mais sobre a "honra" de governar Minas do que sobre a possibilidade de retornar ao Planalto. "Minas é a minha vida, Minas é a minha vocação", disse em frente ao restaurante River Café, com vista para a ponte do Brooklyn, preferido de turistas de dia e casais à noite.
Mas o ex-presidente, hoje sem partido, deixou aberta a possibilidade de concorrer à Presidência: "Vou continuar as minhas andanças pelo país. Tenho percebido uma inquietação na alma do cidadão brasileiro em relação ao governo e às oposições e disse isso ao presidente. Se uma eventual candidatura minha à Presidência se firmar, o presidente a respeitará".
Caso isso aconteça, diz que estará pronto para "disputar a candidatura democraticamente na convenção nacional" do PMDB com o também ex-presidente da República José Sarney. É a confirmação de que, se for candidato, aceitará o convite para se filiar ao partido.
FHC foi muito mais lacônico do que seu antecessor. Enquanto Itamar falava com jornalistas (chegou a preparar um roteiro de suas declarações no caminho entre o Intercontinental e o River Café, em papel timbrado do Hotel Algonquim), o presidente o esperava dentro do restaurante.
Depois, no Metropolitan Museum, FHC disse que ele e Itamar são "dois amigos fraternos que se querem bem". Mas o presidente reconheceu que, se Itamar for candidato à Presidência contra ele em 98, haverá "uma situação desagradável porque dois amigos estarão disputando o mesmo cargo".
Itamar disse que FHC "jamais conversou sobre Minas Gerais" com ele porque ele o respeita, respeita Minas e "sabe que não pode ter ingerência" na sucessão mineira. Mas o ex-presidente também afirmou achar "natural" que FHC o apóie caso ele se decida pela candidatura ao governo mineiro.
"O atual presidente só chegou ao cargo que ocupa por causa, entre outros motivos, de seus méritos pessoais, do fato de ter sido ministro, do Plano Real e do apoio que recebeu do meu governo", declarou Itamar para justificar sua interpretação de que o apoio de FHC à sua pretensão de governar Minas é opção lógica e razoável.
Mas Itamar tentou acalmar o PSDB mineiro. "Aos tucanos, quero dizer que todos aprendem desde muito cedo em Minas que não se atropela uma candidatura. Não se preocupem, que nós não vamos atropelar ninguém."
Ele também mandou recado aos que estão preocupados com sua "densidade eleitoral": "Se fosse tão importante, em 1972, quando não tinha nenhuma, poderia ter feito como outros que desistiram de se candidatar ao Senado" (ele se elegeu pelo então MDB).
Sobre seu atual cargo, de embaixador do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos, Itamar disse ter recebido do presidente solicitação para se manter nele até um substituto ser escolhido, o que vai acontecer entre julho e setembro. Na véspera, FHC havia dito que o embaixador junto à OEA precisa estar "em sintonia" com ele em questões como a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

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