São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Balanço social: a essência e a benemerência

SERGIO FOGUEL

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais, de Herbert de Souza, o Betinho, e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) apresentaram proposta que estimula as empresas a publicar seu balanço social. A iniciativa levanta uma questão importante: qual deve ser o papel social de uma empresa?
Em tempos de amadurecimento democrático, os brasileiros estão se reposicionando enquanto cidadãos, estabelecendo novas relações com o Estado e a sociedade civil. Relações menos paternalistas, em que cada qual arregaça suas mangas e faz a sua parte enquanto cobra do outro a mesma atitude.
Neste cenário, que atributos indicam se uma empresa é socialmente responsável? Pagar impostos? Cumprir a legislação trabalhista? Subsidiar planos de saúde e previdência? Oferecer oportunidades de desenvolvimento a seus funcionários? Promover progressos tecnológicos? Entendo que essas ações compreendem obrigações legais e outros pré-requisitos para que as empresas realizem o seu trabalho. Por isso mesmo não respondem à questão.
Seria, então, uma empresa socialmente responsável aquela que apóia projetos comunitários? Patrocina ações culturais ou esportivas? Os empresários estão sendo cada vez mais convocados se unirem, entre si e a outras organizações, na busca de soluções para redirecionar o Brasil no caminho do desenvolvimento socioeconômico. Mas será esta a responsabilidade precípua de uma empresa?
Vejamos um exemplo esclarecedor: o do médico. Não há dúvidas de que a responsabilidade essencial deste profissional é promover e recuperar a saúde das pessoas, com competência, eficácia, ética e atendimento à legislação.
É desta forma que agrega valor à sociedade. De nada adianta pagar em dia seus impostos, remunerar adequadamente seus auxiliares ou mesmo prestar serviços voluntários se não cuidam direito de seus pacientes.
Voltando ao balanço social, defendo que seus principais indicadores revelem se as empresas estão cumprindo com competência a sua principal responsabilidade, que é prestar bons serviços e/ou fornecer produtos de qualidade, atendendo à legislação, sem gerar desperdícios ou prejudicar o meio ambiente. E se estão criando hoje as condições para continuar a fazê-lo no futuro: capacitando seus integrantes, promovendo progresso tecnológico e desenvolvimento.
Situações falimentares
O exercício dessa responsabilidade é que assegura a sobrevivência e o crescimento orgânico da empresa. Já o não-exercício competente desta responsabilidade pode levar a rupturas, inclusive situações falimentares danosas não somente para os empresários mas para toda a sociedade, pois geram inadimplência de compromissos com funcionários, clientes, fornecedores etc.
Diante desse quadro, o balanço social deve se focar na responsabilidade essencial da empresa, revelando a solidez de sua estratégia de sobrevivência e crescimento orgânico e evidenciando com indicadores de desempenho como a empresa agrega riquezas à sociedade, tais como emprego, capacitação humana e tecnologia, além do fator econômico.
Afinal, nesse enfoque, lucro, liquidez, produção, contratos e exportações são aferidores importantes. Os indicadores devem abranger o universo de interações sociais da empresa, bem como dar conta da qualidade e da produtividade obtida e da atuação quanto ao meio ambiente.
Uma vez analisados estes requisitos essenciais, aí sim se poderão avaliar e valorizar também os compromissos adicionais que essa ou aquela empresa optaram por ter em relação à sociedade.
Reforço que são bastante oportunos o questionamento e o esclarecimento sobre a essência da responsabilidade social das empresas. Ao produzirmos balanços sociais focados e ordenados nessa essência, estaremos não só fazendo uma avaliação da participação do empresariado no desenvolvimento do país, mas estimulando que sua contribuição se amplie, não como oportunismo ou estratégia mercadológica, mas como ação necessária, legítima e consistente.

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