São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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O combate ao fumo

LUÍS NASSIF

As recentes multas impostas à indústria tabagista americana vão ter reflexos sobre a questão, em nível mundial.
E chamam a atenção para a necessidade de se abrir a discussão no país.
Nos anos 70 era comum o discurso de que o país precisava de empregos -não de ecologia- para justificar a atração de indústrias poluidoras.
Consciência pública
Esse período passou. O amadurecimento da consciência pública permitiu que o Brasil deixasse de ser a latrina do mundo.
É hora de encarar, agora, a questão do fumo. Trata-se de uma indústria com enorme potencial econômico.
Este ano o faturamento previsto deve bater os US$ 9 bilhões.
O setor é importante como gerador de empregos e de tributos.
Tentar legitimá-lo a partir dessa lógica econômica é o mesmo que defender a indústria da coca na Colômbia -que cumpre função econômica e social semelhante.
Com a diferença de que o Brasil é uma economia suficientemente diversificada para depender de apenas uma atividade.
Sem limites
Há sinais no ar de que o tabagismo está se deslocando do hemisfério norte para o sul, da mesma maneira que as indústrias poluentes que vieram despejar seu lixo por aqui a partir dos anos 60.
Mais: nos últimos tempos a propaganda tem visado preferencialmente os jovens.
Até alguns anos atrás, algumas iniciativas escolares criaram nos jovens uma saudável resistência ao fumo.
O marketing inverteu essa situação. Mais do que nunca, a rapaziada está caindo de cabeça no fumo, atrás de apelos de marketing.
Não há limitações de propaganda nas emissoras de rádio e TV. Assim como não há constrangimentos para que governadores disputem indústrias de fumo com isenção fiscal.
Assistência médica
As consequências são enormes, não só do ponto de vista social (vitimando cada vez mais brasileiros) como econômico (sobrecarregando a assistência médica pública).
Há a necessidade de um conjunto de iniciativas, visando implementar no país políticas modernas de combate aos efeitos do tabagismo.
Sugestões
O leitor Sérgio Luiz Boeira sugere duas medidas específicas:
1) Investir urgentemente em pesquisa -com metodologia internacionalmente testada pela Organização Mundial de Saúde- sobre os gastos públicos decorrentes do tabagismo.
2) Hospitais e médicos deveriam ser alertados para incluir na ficha cadastral de cada paciente fumante um registro detalhado, contendo número de cigarros fumados diariamente, marca do mesmo etc.
Isso poderá servir como base legal para a família do fumante acionar os fabricantes, em caso de morte decorrente do vício.

Email: lnassif@uol.com.br

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