São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Estrutura do poder ultrapassa o dom divino

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É que nem aquela velha piadinha em que Deus justificava-se a São Pedro sobre os privilégios com que havia protegido as venturosas terras de Santa Cruz: "Por outro lado, ói só o povinho que coloquei lá."
Pois a mesma Providência, que nos brindou com o dom excelso de bem tratar a bola de futebol, reservou-nos uma escumalha para dirigir-nos nesse ofício que, valha-me, Deus!
Fico pensando nas boas intenções que movem alguns companheiros de imprensa e este ou aquele político, como Pelé, que passam a vida buscando soluções e oferecendo alternativas para que a organização do nosso futebol entre nos eixos.
Mas pego como exemplo essa última maracutaia da CBF, que, num patético e vil jogo de cena, promoveu a redenção do Flu, do Atlético-PR e, de cambulhada, até do Bragantino de Nabi, cujo filho acabara de ser salvo por seus pares no Congresso de ser devidamente processado no escândalo do bingo.
Não é por falta de leis -aí está o CBDF-, nem por ausência de instrumentos para aplicá-las -aí estão os tribunais esportivos, com toda a pompa de casas de justiça.
Sobrepor outra estrutura a essa que aí está, ainda que construída sob um design modernoso, não vai mudar nada. O pó -como se dizia no velho Brás- é a gentalha que continuará tocando o negócio. E, pelo visto, nem o dilúvio dará jeito, pois essa raça se multiplica como baratas. E, como baratas, sobrevive a qualquer cataclismo, até mesmo à poeira dos tempos.
*
Vai Cafu, vem Euller. Quebrou-se o encanto, mas renasceu a esperança. O fato é que, se o palestrino já não pode mais sonhar com um time deslumbrante como o do início da temporada -aquele de Muller e Cia, lembram-se?-, pelo menos, acalenta uma certeza: com Felipão, Euller etc. vai brigar por todos os títulos.
Ah, sim, mas não brigava também antes?
*
Esse tricolor do Dario Pereyra parece ter o corpo fechado. Dominado pelo Grêmio, ganhou de 2 a 1. Submetido ao maior sufoco diante do Santos, meteu 3 a 0 no inimigo. Sábado, empatou em 2 a 2 com o Flamengo, mesmo com os rubro-negros tendo a seus pés a bola e os espaços em 3/4 da partida.
Claro que o São Paulo contou com a sorte, mas isso só não justifica o fato de cumprir seu 15º jogo com dez vitórias, quatro empates e apenas uma derrota. O que conta, na verdade, é a competência de Dario Pereyra, que distribuiu o time em campo com singeleza e senso: cada um no lugar onde pode render o máximo, cada qual sabendo de cor seu papel.
É certo que, sem Denílson, perde o brilho. Mas não perde o equilíbrio.
*
Juro que nunca na vida vi um time com tamanha falta daquilo roxo quanto esse Peru que se classificou para a próxima fase da Copa América.
Diante de uma Argentina desfalcadíssima e reduzida a oito jogadores contra onze, mesmo vencendo de 2 a 1, o Peru deu uma exibição de falta de fibra para entrar na história. Por pouco não permite o empate.

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