São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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"Memória" reconstitui melodias

ALVARO MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As interpretações são feitas com partituras recém-reconstituídas e instrumentos originais dos períodos abordados ou réplicas. A maior parte das obras é inédita ou desconhecida do grande público.
Com essas características, a coleção "Memória Musical Brasileira" insere a música brasileira erudita na tendência mundial que redescobre compositores ou reconstitui partituras, em especial as dos séculos 15 ao 18, fazendo-as soar como na época de seu advento.
"Enfoquei principalmente a música secular, não religiosa, a não ser no primeiro disco, cujo material era escasso. Ficaram fora a música sacra e a ópera", esclarece Anna Maria Kieffer.
Inicialmente pensado a partir do século 18, o projeto se ampliou com o encontro da cantora com os musicólogos Paulo Castagna e Rogério Budasz.
Com relação às melodias indígenas na coleção, o fato mais curioso é que elas permitem definir uma linha musical. "Alguns cantos registrados por De Léry e outros viajantes do século 16 têm forma muito parecida com aquela notada por Spix e Martius no século 19, que, por sua vez, lembram cantos ouvidos ainda hoje, incluídos no décimo CD", afirma Kieffer.
Com Paulo Castagna, a cantora redefiniu a posição do chamado "grupo de Mogi" na coleção. Durante a pesquisa, definiu-se que essa roda de músicos paulistas atuou no final do século 17, e não no século 18, como se pensava.
A interpenetração de ritmos europeus, indígenas e africanos é característica não só desse grupo, mas de toda a identidade musical brasileira, segundo Kieffer.
Outro exemplo notável é a obra "mestiça" do mulato Domingos Caldas Barbosa (disco 2), compositor que, "exportado" para a corte portuguesa de d. Maria 1ª (por ridicularizar em seus poemas figuras importantes), fez furor com suas "modinhas brasileiras" e lundus, em que afirma que "o amor no Brasil é mais requebrado e doce do que em Portugal".
"Caldas Barbosa foi o primeiro músico brasileiro de exportação", diz Kieffer.
Na fase moderna, destaca-se a gravação de parte dos "Chants Populaires du Brésil", obra publicada por Elsie Houston em Paris, em 1930, da qual se serviram os principais compositores brasileiros na época.
(AM)

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