São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Diferenças 'diluem' texto sobre meio ambiente

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

A divergência entre EUA e Europa em torno do meio ambiente transfere-se a partir de hoje para Nova York, onde o presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, inaugura reunião extraordinária das Nações Unidas, exatamente para discutir o tema.
A União Européia propõe que as emissões de monóxido de carbono sejam reduzidas em 15% até o ano 2010.
Os EUA não aceitam. Preferem, segundo a UE, uma data posterior e não são claros a respeito da porcentagem de redução.
Consequência do conflito: o documento final da cúpula de Denver é aguado. Limita-se a dizer que a meta deve ser estabilizar a emissão de gases em "um nível aceitável", mas não especifica qual.
O monóxido de carbono resulta da queima de combustíveis fósseis (gasolina, outros derivados do petróleo, carvão etc). Ao se acumular na atmosfera, funciona como os vidros de uma estufa, retendo energia solar e aquecendo o ar.
Tem-se o chamado "efeito estufa", considerado o responsável pelo maior aquecimento do planeta, com "inaceitáveis impactos na saúde humana e no meio ambiente global", como diz o G-7.
Na Rio-92 ou "Cúpula da Terra", a conferência mundial sobre meio ambiente, acertou-se um acordo (já ratificado por 166 países) para, até o ano 2000, conter a emissão do gás nos níveis detectados em 1990.
Mas, segundo o Fundo Mundial para a Natureza, entidade ambientalista, está havendo aumento -e não reduções- das emissões do monóxido de carbono. "Se a tendência atual persistir, os EUA aumentarão a emissão em 15%, até o ano 2000, em vez de estabilizá-la", diz a organização.
São dados como esse que amparam a proposta européia de dar um passo além da Rio-92.
Mas é um passo com consequências econômicas enormes. Todas as indústrias que utilizam combustíveis fósseis (a automobilística, por exemplo) teriam que reciclar-se, o que é caro.
Só no Europa, o gasto, público e privado, seria da ordem de US$ 67,8 bilhões.
No conjunto do planeta, um estudo divulgado em Denver pelo Instituto dos Recursos Mundiais, entidade norte-americana, mostra que, no pior cenário, o crescimento econômico perderia 2,4 pontos percentuais até o ano 2020 se se estabilizassem as emissões até 2010.
Os europeus defendem também uma convenção para conter a devastação florestal. Segundo a ONU, uma área de florestas igual à do território do Nepal é queimada ou derrubada por ano.
EUA e Japão se opõem, bem como Brasil e Índia. No comunicado final, o G-7 não menciona a convenção. Limita-se a falar em um vago "programa de ação" e a elogiar o projeto-piloto sobre a floresta amazônica, financiado pelo grupo. Para o G-7, trata-se de um "exemplo de cooperação internacional prática".
(CR)

LEIA MAIS sobre a reunião de Nova York à pág. 3-6

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