São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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A EPIDEMIA DO FOGO

Apenas dois meses após o episódio em que garotos brasilienses atearam fogo a um índio numa hedionda brincadeira noturna, causando sua morte, já se registram até agora pelo menos outros 20 atentados da mesma natureza em todo o país.
Na época da brutal agressão de Brasília, já eram altamente questionáveis certas suposições paliativas de que alguns episódios recentes de violência desmedida, como os que envolveram as PMs de São Paulo e do Rio, seriam só "casos isolados".
Aos poucos, vai-se constatando, lamentavelmente, que nem mesmo episódios de truculência extremada, como os que agora culminam com a incineração criminosa de pessoas, podem ser considerados meramente esporádicos ou circunstanciais.
Parecem, sim, constituir uma deplorável cultura de extermínio, encarnada agora não mais por supostos esquadrões da morte organizados, mas por indivíduos movidos pelas mais diversas circunstâncias.
Lembrem-se, aliás, os diversos casos de mutilação de pênis que se seguiram à agressão feita por Lorena Bobbit a seu marido, nos EUA. Ao que parece, algumas ocorrências inusitadas de violência vêm-se tornando abomináveis exemplos a inspirar outros atentados similares.
Na mutilação, mas principalmente no ato de atear fogo a um corpo humano, parece estar presente um sinistro simbolismo da mais radical intolerância. A violência nesse nível, ao que tudo indica, expressa uma indomável necessidade de não apenas eliminar, mas principalmente fazer desaparecer aqueles com quem o convívio é tido como insuportável.
Ademais, é preciso lembrar que a sofisticação e o recrudescimento das diversas formas de violência, a serviço de uma intolerância que comumente se funda no preconceito, prosperam em pelo menos dois terrenos férteis: o das psicopatologias, mas sobretudo o da impunidade.
Feitas as devidas ressalvas ao primeiro caso, de ordem clínica e não menos isento de interesse, é imperioso lembrar que os maus exemplos de incendiários e mutiladores têm como principal antídoto a rigorosa aplicação da lei.

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