São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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Relações Hong Kong-Brasil-China devem se intensificar

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a volta do domínio chinês sobre Hong Kong, as relações comerciais e a troca de investimentos entre Brasil e China (e também Hong Kong) devem crescer.
Segundo empresários brasileiros e especialistas ouvidos pela Folha, o bom relacionamento entre os dois países será a força motriz desse crescimento.
Eles prevêem que, na direção China-Brasil, haverá um crescimento de 20% no total de investimentos feitos por empresas chinesas sediadas em Hong Kong.
Além disso, devem crescer as exportações chinesas para o Brasil.
"Hong Kong vai passar a ser a porta de saída da China para investir mais em países emergentes, e o Brasil é o principal deles. Além disso, as relações China-Brasil são ótimas", diz o inglês Brian Gay, diretor da Mascot, uma empresa de consultoria empresarial instalada em Hong Kong.
Nos últimos dez anos, a média anual de investimentos da ex-colônia britânica no Brasil foi de US$ 200 milhões, segundo o Consulado do Brasil em Hong Kong.
Não há números oficiais dos investimentos da China no Brasil e vice-versa, mas, segundo o consulado, eles devem ser inferiores aos de Hong Kong.
"A diferença básica entre antes e depois da devolução será o crescente interesse da China no Brasil. O primeiro-ministro chinês (Li Peng) esteve no Brasil recentemente e sempre mostra muita vontade de aumentar o intercâmbio", diz o cônsul brasileiro na colônia britânica, Luiz Carlos Feldman.
Capacidade para isso não falta. O PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no país) da China foi de US$ 823,33 bilhões em 96.
Além disso, a China, com sua população de 1,4 bilhão de habitantes, é um excelente mercado para produtos brasileiros.
Hong Kong é ainda mais atraente porque, apesar de seu PIB ser equivalente a 20% do PIB chinês, a renda per capita chega a US$ a 25 mil.
"O Brasil é um ótimo negócio, e a China está notando isso", afirma o inglês Peter Heap, que trabalha na Câmara Brasileira de Comércio, em Londres, e no HSBC, o banco chinês que comprou o Bamerindus.
No ano passado, o comércio entre os dois países totalizou US$ 2,2 bilhões (US$ 1,4 bilhão de exportações da China para o Brasil). Comparando com o ano anterior, houve um crescimento de cerca de US$ 200 milhões nos negócios.
Se analisado o volume de importações e exportações Hong Kong-Brasil, o crescimento foi bem maior: passou de cerca de US$ 1 bilhão, em 95, para US$ 1,7 bilhão no ano passado.
Apesar do crescimento nos negócios, a presença de empresários brasileiros na China e vice-versa ainda é pequena.
O escritório comercial do Consulado da China em São Paulo calcula que existam menos de cem empresários brasileiros na China. No Brasil, os empresários chineses são pouco mais que a metade disso.
Em Hong Kong, estão registrados no consulado apenas sete empresas, incluindo Varig e Banco do Brasil.
"Acho que a maioria dos empresários brasileiros tem medo de expandir seus negócios para cá por causa da distância", diz Fernando Pinheiro de Andrade, presidente da BTC (sigla em inglês para Centro Brasileiro de Comércio), que tem filial em Hong Kong há dois anos.
A BTC é uma empresa de importação e exportação. Há cerca de 20 grandes clientes brasileiros que negociam com a China por meio da BTC.
O negócio está dando certo, na avaliação de Fernando Andrade. O faturamento da empresa foi de US$ 2 milhões no ano passado. Neste ano, o empresário prevê que a cifra suba para US$ 5 milhões.
O alto custo de vida é outro motivo apontado por Andrade como fator que assusta os empresários brasileiros no caso de Hong Kong.
O aluguel de um apartamento de dois quartos, por exemplo, custa US$ 5.000 por mês em Hong Kong. "Manter uma empresa aqui é muito caro, mas, para mim, está compensando", diz.

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