São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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Mês campeão de poluição

VOLKER W.J.H. KIRCHHOFF

A população brasileira, principalmente nas grandes cidades do Sudeste e do Sul, deverá logo enfrentar o que pode ser considerado o pior mês do ano no que se refere à poluição do ar. O mês de julho, em geral, é o período mais representativo de casos de inversão térmica, termo técnico que significa que o ar não tem condições favoráveis para exercer sua turbulência, tem dificuldades na sua capacidade de se misturar, o que impede a diluição dos poluentes.
Resultado: aumento das concentrações dos poluentes, que tem como consequência mal-estar, dificuldade de respirar, tosse, aumento de casos de asma.
Não se trata de uma afirmação alarmista. Nos EUA, onde os casos mais graves de poluição são bem documentados, estima-se que há anualmente 1,5 milhão de casos de problemas respiratórios graves que podem ser atribuídos à poluição das grandes cidades.
Essa poluição é produzida principalmente pelos escapamentos dos carros que circulam nas grandes cidades, pelas chaminés das fábricas, usinas termelétricas e incineradores (queimadas em geral).
A Agência de Proteção Ambiental (EPA), daquele país, informa ainda que elevadas concentrações do gás poluidor ozônio são responsáveis pela diminuição de algumas safras agrícolas e que, junto com partículas inaláveis em excesso, reduziram até 77% a visibilidade em alguns parques nacionais.
Para os próximos dez anos, os EUA propõem um gasto adicional para melhorias do meio ambiente americano de US$ 8,5 bilhões. Apesar de muitas críticas, a EPA espera diminuir de 250 mil os casos de crianças com problemas respiratórios por ano, assim como 15 mil mortes de bebês prematuros por ano. São valores de que estão ainda sendo debatidos.
No Brasil não chegamos ainda ao ponto de poder fazer esses cálculos. Os governos, sem recursos, sentem-se impotentes e sem motivação para contribuir mais para diminuir a poluição do ar.
Em São Paulo, o governo paulista está adotando mais uma vez uma medida drástica, de desespero, proibindo a circulação de uma parcela de veículos.
O número de automóveis em circulação na cidade de São Paulo cresceu num ritmo muitíssimo elevado, muito maior do que qualquer capacidade do poder público de acomodar as mudanças e necessidades associadas a tal crescimento. De 1940 em diante, a frota mais que dobrou em cada década subsequente. Hoje é da ordem de 5 milhões de veículos.
Mas pasmem, senhoras e senhores, o Brasil também investiu na tecnologia da melhoria da qualidade do ar nos grandes centros, ainda que indiretamente e que isso tenha passado quase despercebido. Faz parte dessa atividade o sonho da humanidade de produzir energia renovável, que no Brasil foi tornado realidade pelo álcool combustível. Por lei, a gasolina queimada na maioria dos veículos brasileiros tem adicionada uma porcentagem de álcool, garantindo uma poluição do ar menor.
O motivo é que a queima do álcool produz muito menos material poluente. Resultado genial para uma tecnologia brasileira.
Um dos principais gases poluidores dos grandes centros urbanos é o monóxido de carbono, que passa a ser um precursor para geração de ozônio e quase não é produzido pela queima do álcool.
Assim, a queima da gasolina hoje produz cerca de 15% menos material poluidor. Isso é um fator considerável, que pode fazer a diferença entre um ar "suportável" e um ar totalmente condenável.
O Programa Nacional do Álcool pode ter suas críticas, mas, na questão da poluição do ar, a adição do álcool à gasolina foi e continua sendo muito benéfica.
A produção do álcool, feita com incentivos do governo, tem nesse caso ampla justificativa social. Seu uso causa menos poluição não só aos donos de automóveis, mas também aos pedestres, pois, afinal, todos respiramos o mesmo ar.

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