São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
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FESTA!

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

"Eu tento dar uma festa/E o cara de cima reclama" Trecho da canção "Tudo Acontece Comigo", de Mattis Dennis

Festa em inglês é "party". "Party", em inglês, é também partido. Segundo John Wells, que prefaciou o livro de Susanna Johnston "Parties - A Literary Companion" (festas - uma compilação literária), os ingleses tomaram "party" do francês "partie", no sentido de apartado, separado, a parte mais do que o todo.
Seu primeiro significado para os britânicos, no século 18, era político, mas desde o início o sentido estava relacionado com o de "encontro social" de uma parte, de uma exclusividade (donde o "apartheid").
"O desejo de celebrar é universal" (a festa preenche o desejo gregário natural do ser humano), diz Wells, mas "confuso para as outras culturas é a idéia na cultura ocidental de fazer uma festa apenas pelo desejo de fazer uma festa". O livro é um festim da literatura sobre festas. Em quatro partes ("Começo", "Todos os Tipos de Festas", "Folia" e "Finais"), a autora seleciona trechos que falam, explícita ou implicitamente, sobre festas extraídos de 203 autores. Festas? No livro, onde as palavras que mais aparecem são -significativamente- excitação e ansiedade, podem ser jantares, banquetes (também os políticos e beneficentes), bailes, orgias, happy hours, festas de aniversário, de casamento e, para algumas culturas, o funeral de alguém querido.
As festas também podem aparecer no livro por meio da ficção, ensaio, poesia, diálogo de peças de teatro, memórias e letras de música. Da "Bíblia", de Horácio e Petrônio, passando por Shakespeare, por George Saville, o Marquês de Halifax, e Thomas Hobbes, passando ainda por Goethe, Honoré de Balzac, Gustav Flaubert e Alexandre Dumas, passando também por Pushkin e por Tolstói, por James Joyce e George Bernard Shaw, por Thomas Mann e Tomaso di Lampedusa, por Proust, é claro, e por Fitzgerald, é claro, pelos poetas W.H.Auden e T.S.Eliot, e por muitos outros, até chegar a festas de pai para filho (Kingsley e Martin Amis), a antologia mostra que não é só Paris que pode ser uma festa (aliás, Hemingway, um dissoluto, não entrou nem de bicão nessa festa): a literatura também é.
Algumas festas ilustres da literatura não foram convidadas para o livro de Johnston (que também "apartou-se" da literatura fora do contexto europeu-americano). Algumas imperdoáveis, por sinal, como o famoso banquete do amor platônico. De qualquer e boas maneiras, diz-se que uma festa memorável também se faz pelas grandes ausências. Com os convidados de madame Johnston, já dá para se divertir às pampas. RSVP.

Livro: Parties - A Literary Companion
Autora: Susanna Johnston
Quanto: US$ 24,95 (286 págs.)

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