São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ativistas vêem traição de EUA e Reino Unido

GILSON SCHWARTZ
JAIME SPITZCOVSKY

GILSON SCHWARTZ; JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADOS ESPECIAIS A HONG KONG

Líderes pró-democracia criticam participação dos dois países na posse do novo Legislativo, montado pela China

Faltam 3 dias para a devolução
Ativistas pró-democracia de Hong Kong acusaram Reino Unido e EUA de "traição", por enviar representantes à cerimônia de posse do Conselho Legislativo Provisório, o Parlamento montado pela China.
A deputada Emily Lau, do atual Conselho Legislativo, que será dissolvido por Pequim, descreveu as iniciativas britânica e norte-americana como "desprezíveis".
A partir de 0h de terça-feira (13h de segunda-feira em Brasília), Hong Kong volta ao controle da China, depois de 156 anos de domínio britânico. A devolução, acertada em 1984, ocorre sob a fórmula "um país, dois sistemas", que prevê a manutenção por 50 anos do sistema capitalista e um alto grau de autonomia administrativa em Hong Kong.
O governo comunista chinês afirma que vai respeitar o acordo, mas já anunciou a dissolução do atual Conselho Legislativo e criou uma nova Assembléia, que toma posse junto com o novo governo.
Pequim argumenta que o atual Conselho Legislativo foi formado a partir de reformas democratizantes implementadas "unilateralmente" pelo Reino Unido e se recusa a reconhecer os resultados dessas mudanças.
A China montou um Legislativo sem políticos que considera "subversivos", como Emily Lau, do movimento pró-democracia Fronteira, e Martin Lee, líder do Partido Democrático, o maior de Hong Kong.
Para demonstrar sua rejeição ao órgão, a secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, e o premiê britânico, Tony Blair, anunciaram que abandonarão a cerimônia oficial de devolução de Hong Kong minutos antes da posse dos novos deputados.
EUA e Reino Unido fracassaram em sua tentativa de ampliar o boicote. Aliados tradicionais, como Japão e Austrália, preferiram evitar o confronto com a China.
Os EUA vão enviar seu cônsul-geral em Hong Kong, Richard Boucher, à posse do novo governo de Hong Kong e dos novos deputados. O Reino Unido será representado por dois diplomatas, entre eles Francis Cornish, que vai chefiar o consulado britânico.
A decisão de enviar representantes à cerimônia sinaliza a preocupação de Washington e Londres em manter canais de diálogo com Pequim, principalmente para não prejudicar seus interesses econômicos no mercado chinês.
Eleição direta
Às vésperas de sua dissolução, o Conselho Legislativo, dominado pelos grupos anti-Pequim, aprovou mais alterações nas leis de Hong Kong, na tentativa de proteger as reformas pró-democracia implantadas pelo governo colonial desde 1992. A China, no entanto, disse que essas decisões serão provavelmente anuladas a partir de 1º de julho.
Uma das moções pede a Pequim que mude a Lei Fundamental, uma espécie de Constituição de Hong Kong, para permitir a eleição direta dos deputados e do governador.
A China afirma que vai realizar eleições legislativas em 1998, mas as regras serão decididas pelos deputados indicados pelo governo chinês. Ativistas pró-democracia temem favorecimento de candidatos apoiados por Pequim.
O governador só será eleito diretamente a partir de 2007. O futuro governador, Tung Chee-hwa, foi indicado por colégio eleitoral dominado por Pequim.

LEIA MAIS sobre a devolução de Hong Kong à pág. seguinte

Texto Anterior: Soldados prendem opositor do ex-Zaire
Próximo Texto: BC de Hong Kong teme especulação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.