São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Primeiro ato

JANIO DE FREITAS

O fim das festas juninas não é o fim das festas: nelas a semana entrante emenda a celebração festiva do terceiro aniversário do Plano Real.
Alguma celebração é justificada, sim, desde que referida à queda da inflação, e não ao Plano Real em seu conjunto, que é um amplo insucesso do qual só se excetua mesmo a inflação. O que está previsto, porém, vai muito além do cabível: é a inauguração da campanha pela reeleição.
A comitiva de grandes empresários que vai a Brasília para um encontro com Fernando Henrique Cardoso, na terça-feira do aniversário, também estará dando a sua primeira contribuição (re)eleitoral, por certo a mais barata de todas, com a escolha antecipada do seu candidato. Não será explícita, nesse sentido. E não precisa sê-lo: o teor do seu manifesto pró-reformas é claro, ao jogar no Congresso toda a responsabilidade da mistificação que tem sido o atual reformismo.
Os empresários todos que vão a Brasília sabem que as grandes inovações provenientes de reformas, a tão propalada modernização do Brasil, não deu nem os primeiros passinhos por três motivos:
-já ao assumir, Fernando Henrique Cardoso estabeleceu com o Congresso o regime de relações comerciais. Não o convocou para a atividade séria e aplicada de um Poder Legislativo confrontado com um momento de transformações. Desde o primeiro momento, a regra foi a de indagar pelas reivindicações para, atendendo-as ou prometendo fazê-lo, obter o apoio desejado;
-as reformas mais importantes para promover a transformação (a de nova organização política, a tributária e a fiscal) ficaram nas promessas esquecidas. E as levadas ao Congresso apresentaram-se em projetos tão calhordas, que só por isso já teriam tramitação tumultuosa e lenta;
-por mais de um ano, o Congresso funcionou em banho-maria, porque a prioridade de Fernando Henrique era o projeto da reeleição, não convindo levar adiante o que quer que pudesse criar divisões mais profundas entre os parlamentares governistas.
O Congresso tem muita responsabilidade em qualquer dos males, atrasos e deformações do país. Mas não é o único nem o maior responsável pela mistificação que é a prometida modernização. Só no regime ditatorial o Congresso foi tão submisso ao Executivo quanto é hoje. Logo, não tem feito mais do que refletir o que a Presidência da República deseja de tamanha subserviência.
Os sublevadores
Não houve problemas para que o governador Eduardo Azeredo depressa se dispusesse a aumentar em 48%, elevando-o a R$ 615, o vencimento básico dos policiais militares de Minas. Por que não o fez antes, mas só depois do estúpido episódio que transformou uma passeata reivindicatória em ato de revolta? Não foi a falta de dinheiro invocada antes, porque não nasceu dinheiro nos cofres governamentais em razão do conflito.
A razão é simples e sempre a mesma: empanturrados de arrogância, esses governantes supõem-se poderosos mesmo, poderosos acima de todos e de tudo. O que não é bajulação lhes parece desaforo. Cevados nas mordomias, convivas só dos portadores de altos cifrões, nem querem saber do que se passa com a gente comum nas lutas pela vida.
Em Brasília ou nos Estados, essa classe de governantes é o verdadeiro caso de polícia.

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