São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Clima de confronto marca votação do impeachment

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

A votação do impeachment do governador de Santa Catarina, Paulo Afonso Vieira (PMDB), marcada para amanhã, ocorrerá em um clima de confronto entre os Poderes Executivo e Legislativo.
A hostilidade institucional contaminou os manifestantes que defendem o impeachment e os que são contrários à medida. No final da tarde de sexta-feira, grupos dos dois lados partiram para o confronto, sem consequências graves.
O acirramento de ânimos ameaça com um cenário de conflito. O governador disse ter tomado "todas as providências para garantir a integridade pessoal e patrimonial".
O presidente da Assembléia, Francisco Kuster (PSDB), acusa o governador de ter criado um "clima de guerra", atribuindo-lhe a responsabilidade por quaisquer eventuais incidentes.
Vieira declarou que o deputado quer "reprimir" a manifestação porque "é contra ele". Disse estranhar o comportamento do presidente do Legislativo.
O governo espera reunir até 50 mil manifestantes na região onde fica a Assembléia, vizinha da sede do Executivo e do Judiciário, no centro de Florianópolis, para pressionar contra o "golpe".
Não haveria mais ônibus à disposição no Estado, todos contratados pelo PMDB para transportar manifestantes do interior.
Assessores do governo dizem que será difícil controlar a massa, caso o resultado do plenário da Assembléia seja adverso para o governador, acusado de irregularidades na emissão de títulos públicos -objeto de investigação pela CPI dos Precatórios.
Também serão votados os pedidos de impeachment do vice-governador, José Augusto Hülse, do secretário da Fazenda, Paulo Prisco Paraíso, e do procurador-geral do Estado, João Carlos Hohendorff.
Para a aprovação são necessários 27 votos. Para a rejeição, 14 votos. O PMDB possui uma bancada de 11 deputados.
Se pelo menos seis dos oito deputados do PFL acatarem a ordem do partido de votar pelo impeachment, o afastamento de Vieira seria aprovado, porque os deputados dos demais partidos de oposição (PPB, PT, PSDB e PDT) dizem estar fechados contra ele.
Os manifestantes pró-impeachment pretendem reunir cerca de 5.000 pessoas. "Não nos intimidamos e queremos ficar em uma área isolada para evitar provocações", disse o presidente da CUT-SC (Central Única dos Trabalhadores), Alípio Alves.
"Eles (governistas) estão no desespero e podem perder o controle emocional. Nós vamos para a praça para concluir o trabalho cívico que fizemos desde o início do escândalo, esclarecendo a população", declarou Alves.
A Polícia Militar não acredita que o número de manifestantes chegue a 50 mil. Estima, por sondagens feitas no interior do Estado, em torno de 20 mil.
Não haverá expediente administrativo nos quartéis da PM nesta segunda-feira, a fim de que os PMs sejam usados na área operacional.
Cerca de 2.500 soldados (mais da metade do contingente da região metropolitana) serão destacados para atuar em função da votação.
Haverá isolamento com cordas e as ruas próximas à Assembléia serão interditadas para o tráfego.

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