São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Oposição encolhe, mas ganha consistência

DA REPORTAGEM LOCAL; DAS SUCURSAIS; DA AGÊNCIA FOLHA

Se no ano passado, quando o provão ocorreu pela primeira vez, "choveram" ações na Justiça tentando suspender a sua realização, este ano a cena mais marcante foi a dos grupos de alunos que buscavam uma liminar para poder participar, hoje, da segunda edição do Exame Nacional de Cursos.
Isso não quer dizer que o provão virou uma unanimidade apenas sete meses após a sua estréia. Pelo contrário, a nova corrida à Justiça só ocorre porque quem não participa fica sem diploma universitário -e algumas faculdades "esqueceram" de inscrever alunos.
Mas, com raras exceções, o discurso crítico em relação ao provão ficou mais brando. Este ano já não se ouve tanto "Sou contra".
Os grêmios que lideraram a resistência ao exame em 1996, como o da engenharia civil da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), agora "liberaram" seus alunos para agir conforme seu julgamento.
A maioria dos centros acadêmicos de cursos que participam pela primeira vez este ano (engenharia química, odontologia e veterinária) nem sequer se mobilizaram.
Limitado
O que mais se diz em relação ao provão-97 é que esse é um tipo limitado de avaliação universitária, que apenas leva em consideração o desempenho dos alunos.
Essa já era a posição do Crub (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e da Andifes (entidade que reúne reitores de universidades federais).
Hoje essas entidades pressionam o governo para que outros tipos de avaliação -como a que é feita pelas próprias instituições, sob o nome Paiub- recebam do MEC o mesmo empenho que o provão.
O pró-reitor de graduação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), José Tomaz Vieira Pereira, assume que mudou de posição: "É lei e, se é lei, eu cumpro."
Mas não é só pela a obrigatoriedade que ele defende a participação. O provão "é um pedaço pequeno de um processo de avaliação que é necessário", diz.
Para o pró-reitor, "a negativa anterior colocou a gente em uma posição não confortável e os alunos estão cientes disso". O boicote do ano passado deixou o curso de engenharia da Unicamp com conceito E -o mais baixo.
Outro efeito da divulgação dos resultados do primeiro provão, no final de abril, foi o de melhorar a qualidade do debate em torno do provão -e, assim, surgem críticas mais substanciais ao exame.
"Como marketing foi bom para a Unesp (Universidade Estadual Paulista), mas para a qualidade do ensino não mudou nada", diz o reitor Antonio Manoel dos Santos Silva. "Segundo o provão, nossa qualidade é excelente. Mas acreditamos que temos falhas e o provão não nos diz como melhorar."
A USP, que desde o início fez oposição cerrada, mantém a posição de que o provão deveria ser aplicado mais cedo, em torno do segundo ano do curso.
"Esse tipo de prova deveria ser usado para avaliar matérias mais básicas", diz o pró-reitor de graduação da universidade, Carlos Alberto Barbosa Dantas.
Para ele, o exame "pode até ser um mecanismo de controle de qualidade de escolas de baixo nível. Mas esse tipo de avaliação acaba nivelando por baixo".
"Hoje se dá mais atenção ao exame em si, não se fica apenas reclamando dele, se adotam medidas para ter sucesso", afirma o presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras, Edson Franco. "O provão já está dando frutos."
Assim, alunos fizeram simulados (Universidades São Marcos e de Mogi das Cruzes), currículos foram mudados (Universidade Cruzeiro do Sul) e até docentes sem título foram demitidos (Faculdades Metropolitanas Unidas).
A titulação e o regime de trabalho dos professores são apontados como as questões mais problemáticas do provão -já que um corpo docente com mestrado ou doutorado e em regime integral melhora o conceito que cada curso recebe.
A presidente do Inep -o instituto do MEC responsável pelo provão-, Maria Helena Guimarães de Castro, reconhece que há cursos onde a titulação influi na qualidade do ensino (áreas mais básicas, como física); mas em outras áreas, como jornalismo ou direito, um profissional sem título pode até dar uma aula melhor.
"Temos seis ministros do STF trabalhando em regime de 20 horas semanais. O MEC não acha que isso merece nota A, porque eles deveriam trabalhar 40 horas", afirma o reitor da Universidade de Brasília, João Cláudio Todorovi.

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