São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Bolsa ganha força e deve fechar 3 anos com valorização de 252%

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Em três anos de Real, todo mundo que decidiu aplicar sobras de caixa no mercado financeiro ganhou dinheiro. Uns mais, outros menos.
A exceção ficou com dólar e ouro, a dobradinha que, no passado, garantia o investidor pelo menos contra a inflação.
A maior rentabilidade nesses 36 meses foi obtida pelas aplicações em ações. O Índice Bovespa, indicador da Bolsa paulista, com forte peso das "blue chips" de estatais, capitaneadas por Telebrás, se valorizou nada menos do que 252% -até a última sexta-feira.
Mas não foi assim desde o início do Plano Real. Em 94, a Bolsa subiu muito na expectativa de êxito do Plano Real e da vitória de FHC em 94. Definido o resultado da eleição, vieram as realizações de lucro (quando o investidor vende ações para embolsar dinheiro) e o mercado acionário viveu uma fase de baixa.
Em abril de 95, logo depois do ajuste abrupto na taxa cambial, a Bolsa ensaiou uma recuperação, mas a reação durou pouco. Seguiu-se um período de altas e baixas no mercado de ações.
A política monetária elevou a taxa de juros (velha concorrente da Bolsa) e a economia viveu uma fase de desaquecimento e índices preocupantes de inadimplência, tanto de consumidores finais quanto de empresas.
No primeiro semestre de 96 as rédeas da política monetária foram afrouxadas. Os prazos do crediário ganharam liberdade, os juros mantiveram a queda gradual e a inflação continuou em baixa, confirmando que o Real, nessa área, veio para ficar.
A Bolsa iniciou então uma caminhada de alta que continua até hoje, beneficiada pelo excesso de liquidez internacional (recursos abundantes à busca de alternativas de investimento, tanto produtivo quanto especulativo).
O fôlego das Bolsas está tão forte que, entre executivos do ramo, já há quem tema uma reversão de tendência. O fluxo de investimentos estrangeiros em Bolsa voltou a ser negativo, enquanto cresce o de aplicações de "varejo" interno. Essas são mais sensíveis a qualquer alteração de expectativas.
Muitas ações estão caras, inclusive vedetes como Telebrás. Realizações de lucro mais frequentes evitariam uma queda abrupta mais tarde.
Renda fixa
Quem permaneceu na renda fixa (que rende juros) ganhou menos, mas não pode reclamar.
A caderneta de poupança, o investimento mais popular no país, rendeu 114,20% líquidos, contra uma inflação em torno de 67%, medida pela Fipe.
Outros investimentos foram mais rentáveis e, entre eles, destacam-se o CDB (Certificado de Depósito Bancário) de grande investidor e os fundos de renda fixa.
O CDB prefixado acumula rentabilidade líquida (descontado o imposto no resgate) de 138,34%.
Os fundos tiveram rentabilidade líquida de 132,34%, mas na média deles, e considerando os de commodities até o final de 1995 e os FIFs de 60 dias dali em diante.
A rentabilidade dos fundos varia muito de banco para banco e até mesmo dentro da mesma instituição, já que existem produtos conforme o perfil do cliente (leia-se cacife financeiro).
O parâmetro de rendimento na indústria dos fundos de renda fixa é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que acumula 177,4% no Real. No limite, com taxa de administração baixa e boa performance, um fundo com rentabilidade empatada com o CDI daria ao investidor 155%.
Os fundos de curto prazo, em extinção lenta desde que entrou em vigor a CPMF, dia 23 de janeiro, renderam 65,55% líquidos, em média, desde o início do Real.
Foi um desempenho pífio, mesmo porque esses fundos não podem ser considerados investimento. Abrigam dinheiro para o dia-a-dia. Mas pelo menos empataram com a inflação. Ouro e dólar, nem isso. O "black" foi vítima da âncora cambial e se valorizou cerca de 15%, apenas, em 36 meses. O ouro foi pior ainda: vale hoje menos do que em junho de 94.

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