São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Cenário externo deve determinar futuro do plano

DA REPORTAGEM LOCAL

A existência de um cenário internacional favorável -abertura da economia no início da década e restauração do fluxo de capitais externos para o país- foi fundamental para o êxito do programa de combate à inflação nos primeiros três anos do Plano Real.
Mas, ao mesmo tempo, a questão externa é ponto mais vulnerável do plano e coloca em risco, em caso de mudança brusca da conjuntura internacional, o programa de estabilização do governo.
Essa é uma das conclusões do debate sobre os três anos do Plano Real, realizado sexta-feira no auditório da Folha.
"Não existe ameaça de volta à inflação no curto prazo", disse Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney).
"Somente uma grave crise internacional seria capaz de pôr a pique o Plano Real nos próximos dois anos", afirmou Mailson.
O debate contou também com a participação de Aloizio Mercadante, economista do PT (Partido dos Trabalhadores) e de Gesner Oliveira, presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Para Oliveira, o Plano Real teve sucesso do ponto de vista do combate à inflação. A abertura econômica foi vital para a estabilização e um eventual "desequilíbrio externo" é o maior risco para a sobrevivência do plano.
Segundo Oliveira, há uma vulnerabilidade externa, "real, mas não excessiva", referindo-se ao déficit no balanço de pagamentos.
Inconsistências
Mercadante reconhece que o Plano Real teve sucesso no controle da inflação e concorda que o governo tem condições de manter a estabilidade no curto prazo.
Mas diz que o plano está apoiado na "âncora cambial" e tem "profundas inconsistências macroeconômicas." Segundo ele, a manutenção de taxa de câmbio irrealista durante os últimos três anos fez o déficit do balanço de pagamentos saltar de US$ 600 milhões, em 93, para US$ 24 bilhões, em 96.
"O governo precisa tomar emprestado US$ 2 bilhões por mês para conseguir fechar as contas", disse Mercadante. O economista do PT é favorável a uma desvalorização do real. "É preciso fazer uma desvalorização cambial, ligada a um ajuste fiscal. Quanto mais demorar, pior. Para sustentar a estabilidade, o governo terá de tomar medidas impopulares."
Contra a lógica
Mailson é contra desvalorizar a moeda neste momento. "Estabilidade significa preservar a atual política cambial", disse. Para o ex-ministro, a desvalorização do real quebraria a lógica do plano e o processo inflacionário seria retomado.
Cita estudo que prevê inflação de 26% em seis meses, caso o real sofra uma desvalorização de 10%.
Mailson diz que o governo vai precisar de "arte, engenho e sorte". Terá de manter "sintonia fina" para evitar tendências explosivas no déficit comercial, buscar medidas criativas para evitar explosão do déficit público e contar com a sorte para que o "cenário externo se mantenha como está." Para Oliveira, a redução do custo Brasil seria muito mais efetiva que uma desvalorização cambial. Afirma que a diminuição de 30% nos custos portuários teria impacto equivalente a uma desvalorização cambial de 20% para alguns produtos exportados.

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