São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Justiça social é desafio de médio prazo para o Real, afirma Malan

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A justiça social é importante, mas não é para já. Perguntado sobre os desafios do Plano Real, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, colocou em perspectiva a preocupação do governo em corrigir distorções sociais.
"Fazer o Brasil um país mais justo do ponto de vista social", disse, é desafio para ser enfrentado "a médio e longo prazo".
A seguir, a entrevista que Malan concedeu à Folha às vésperas do terceiro aniversário do Real.
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Folha - Que balanço que o sr. faz dos três primeiros anos do Real?
Pedro Malan - O balanço deve ser feito à luz da situação em que nos encontrávamos há três anos. Este será o quarto ano consecutivo de inflação em trajetória de queda. O nível de 7%, previsto para 97, não ocorria desde o início dos anos 50. Era inflação de cinco dias antes do lançamento do Plano Real. Para 98, a avaliação é que a inflação será inferior à de 97. No caso do crescimento, desde 93 a economia vem crescendo sustentadamente. Em 98, esse crescimento terá continuidade. Este ano, o crescimento será em torno de 4%. Para 98, um pouco superior. É uma experiência que também não tínhamos desde a segunda metade dos anos 70.
Por último, mas não menos importante, apesar de o Brasil continuar sendo um país injusto, com problemas de toda ordem na área social, houve, com o fim do imposto inflacionário, o fim de um tributo que incidia sobre os mais pobres. Mas o mais importante é a profunda mudança que está ocorrendo na economia. Ela está ficando mais desconcentrada, mais descentralizada, mais competitiva.
Folha - Qual seria o sinal mais forte da tendência de descentralização da economia brasileira?
Malan - Os exemplos são inúmeros. Há 20 ou 30 anos, os US$ 12 bilhões de investimentos diretos estrangeiros no Brasil talvez estivessem concentrados na Grande São Paulo. Hoje, são investimentos que têm lugar no Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás. Mostra um processo de descentralização industrial.
Folha - Quais são as metas do governo a médio e longo prazo?
Malan - O governo tem três objetivos fundamentais: manter a inflação sob controle, por razões de natureza econômica e social. Nós estamos convencidos de que a hiperinflação é um imposto sobre o pobre, e que a inflação baixa retira o imposto sobre o pobre. É uma questão de justiça social. Outro objetivo é a continuidade das mudanças e do crescimento estrutural. E, obviamente, o mais importante é a área social, onde as coisas vão mudar. Mas aí não há mágica.
Folha - Os números mais recentes divulgados pela Fipe mostram a aceleração da inflação. Isso preocupa o governo?
Malan - Não preocupa ninguém. A projeção da Fipe para os próximos 12 meses é de inflação inferior a 7%.
Folha - Qual é o maior desafio que o Plano Real deve enfrentar no próximo período?
Malan - A médio e longo prazo, fazer o Brasil um país mais justo socialmente. A curto e médio prazo, o grande desafio é o conjunto de questões ligadas à modernização do Estado: aumento da eficiência operacional do setor público nos três níveis de governo, aumento na eficiência no gasto público, redução do déficit fiscal.
Folha - A necessidade de equilibrar a balança comercial não pode ser considerada um grande desafio para o governo?
Malan - Não é um desafio da mesma magnitude do anterior. A mudança estrutural vai capacitar o Brasil a competir na disputa do mercado doméstico com os produtos importados nos próximos anos. Da mesma maneira, as medidas que tomamos para promover a exportação -desoneração do ICMS, mecanismos de financiamento do BNDES, ressarcimento do PIS e da Cofins, as medidas de restrição ao financiamento de importações- todas caminham em uma mesma direção, que é equacionar o problema ao longo do tempo.
Folha - Como o sr. analisa o atual nível de desemprego no país?
Malan - Infelizmente ainda temos entre nós pessoas de memória curta. Acham que tudo ia bem e aí, de repente, vem o Plano Real e o problema do desemprego passa a ser o grande problema. O nível de desemprego que temos hoje, de acordo com o indicador do IBGE, que segue a metodologia da Organização Mundial do Trabalho, está no mesmo nível do final dos anos 80 e início dos anos 90. Não houve essa deterioração. Depois de 30 anos de experiência hiperinflacionária, o país não comporta essa idéia. É um falso dilema.

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