São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997 |
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Mãos ao alto
OSIRIS LOPES FILHO O cidadão honesto e imbuído dos valores democráticos deve andar, neste governo FHC, com ambas as mãos nos seus bolsos. A finalidade é protetora. Evitar que algum articulador governamental lhe enfie dinheiro de maracutaia no bolso, como ocorreu na aprovação da emenda constitucional que propiciou a reeleição do presidente.O risco maior de que se enfie dinheiro no bolso só ocorre em relação àqueles poderosos, influentes em alguma decisão do interesse governamental. Pobre, doente, desempregado, espoliado, vale dizer, a maioria desassistida desse país não deve ter esperança de que seus bolsos recebam algum agrado ou dádiva. A experiência mostra que os gastos extraordinários governamentais são para os já afortunados: banqueiros falidos, especuladores e investidores estrangeiros e seus aderentes nativos e a quem se precisa comprar, como os deputados do fronteiriço Acre. O povo deve manter as mãos no bolso, segurando a carteira, pois o fluxo em relação a eles é de retirar e não de colocar. Não há esperança de se lhe recompor nem sequer o que é devido, de direito de sobrevivência, como, por exemplo, o salário mínimo que está sendo praticado pelo governo, como mínimo mesmo, submetido a emagrecimento barato, sem a sofisticação dos spas para os ricos. Diz o ditado que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Povo, mantenha ambas as mãos no bolso e segure fortemente a carteira. Pretende-se criar um novo imposto sobre combustíveis. Como sempre, doura-se a pílula. Alguns o chamam de imposto verde, para combater a poluição. O diabo é que quem paga o pato ou a conta, pela tradição, é o povo. Tributação sobre combustíveis sempre eleva todos os preços na economia, que terminam sendo absorvidos nos preços finais pelo consumidor. Conspira-se para prorrogar a CPMF até o final de 1999. Tenta-se prorrogar o Fundo de Estabilização Fiscal, terrível cunha federal nos orçamentos estaduais e municipais. Outro dia a Aspásia Camargo, doce tecnocrata federal, em entrevista à Folha, disse: "O Brasil do pânico acabou". É verdade. Agora é época do assalto legalizado. O governo federal vai atacar o bolso do cidadão e das empresas, aumentando a carga tributária. A palavra de ordem federal é "mãos-ao-alto, povo brasileiro". Osiris de Azevedo Lopes Filho, 57, advogado, é professor de Direito Tributário da Universidade de Brasília e ex-secretário da Receita Federal. Texto Anterior: Fundo para máquinas; Meio a meio; Risco maior; Na frente; Medalha de bronze; Depende de nós; Força de atração; Alvo público; No vermelho; Empréstimo podre; De Primeiro Mundo; Efeito dominó; Entre bancos; Vale debate; A peso de ouro; Pé atrás Próximo Texto: O Real e a redução da pobreza no Brasil Índice |
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