São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997 |
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Aos 50, Índia é emergente que não deu certo
GILSON SCHWARTZ
Fala-se muito nos "big emerging markets", definição criada pelo presidente Clinton para enquadrar os países em que as importações tendem a crescer mais que no resto do mundo nos próximos 20 anos. Mesmo entre esses países, entretanto, há diferenças importantes. De um lado, uma vanguarda asiática (a área econômica chinesa, a Asean). No meio do campo, países que vão indo muito bem, ainda que sob suspeita, como Turquia, Polônia, África do Sul e Coréia do Sul. É difícil não ver, na rabeira, os grandes representantes do movimento dos não-alinhados: Índia e Brasil. Os indicadores econômicos da Índia são muito próximos aos do México e do Brasil. É um país que entusiasma, mas não empolga. Tem uma dívida social colossal. Faz reformas, mas não as completa. Abre a economia, mas parece que está faltando alguma coisa, e os investimentos não chegam propriamente a decolar. Como o México, a Índia se entusiasmou no final dos anos 80, até que sucumbiu a uma crise de balanço de pagamentos em 1991. A máxi necessária foi, então, de 22%. O crescimento econômico fica ali na faixa dos 4%, 5%. Curiosamente, a Índia recebeu apoio das potências ocidentais nos anos 60 como forma de deter o avanço do comunismo chinês. Hoje, o Ocidente corteja a China e a Índia é vista como promessa que nunca se cumpriu. Depois da crise, o governo indiano comprometeu-se com reformas profundas, estruturais. Vem fazendo quase tudo pela metade. Liberalizou a regulamentação dos investimentos, mas não o mercado de trabalho. Reduziu as tarifas sobre importados, mas ainda tem um regime cuja tarifa média é pelo menos duas vezes mais elevada que a brasileira. Fez privatizações, mas descobriu-se corrupção das grossas no processo, manchando a reputação do primeiro-ministro liberalizante. O déficit público continua na faixa dos 3% do PIB. O déficit em conta corrente supera os 3% tidos como razoáveis pelo senso comum global. Os subsídios são distribuídos de modo politicamente incorreto, para desagrado dos observadores internacionais. Lá, como cá, o governo luta por uma espécie de FEF, que reduza as transferências para Estados. Sem contar as estatais, que são mais de 200. O capital estrangeiro desfia rosários de queixas sobre o ambiente de negócios na Índia, inquietações que agora começam a surgir também com relação à China. A tendência oficial é favorável ao capital estrangeiro, mas as restrições continuam fortes. Mas, enquanto a China atraiu cerca de US$ 40 bilhões no ano passado, a Índia hospedou menos de US$ 3 bilhões. O contexto social e político também não ajuda. São 320 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza. A mortalidade infantil cai muito lentamente. O sistema de castas e a diversidade cultural e regional estimulam o fanatismo, válvula de escape no círculo vicioso da miséria. No meio do caminho entre Ocidente e Oriente, a Índia não consegue sair do lugar. Retiro Depois de cinco anos ocupando este espaço semanal e ininterruptamente, estarei em férias nos próximos 30 dias. Aproveito para agradecer aos leitores que escreveram ou telefonaram dando sugestões, fazendo críticas ou solicitando material citado nesta coluna. Texto Anterior: O Real e a redução da pobreza no Brasil Próximo Texto: Os consórcios de saúde e o SUS Índice |
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