São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Horray for Hollywood 2

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Conforme prometido, aqui está a segunda parte desta minissérie, estrelada por todos os atores que subirão a rampa da "Arca de Noé" para dar lugar neste pequeno mundo chamado televisão a outros atores, de outras línguas, que transformarão nossa TV na nova Torre de Babel.
Aliás, a coisa já começaria do lado de fora, onde as velhas e fiéis padarias, palco de centenas de cafezinhos entre uma cena e outra seriam substituídas por barraquinhas de cachorro-quente, mais ao gosto das estrelas importadas.
As substituições começariam no nosso produto televisivo mais popular: as novelas.
Ao invés dos remakes de sucessos nacionais como "Anjo Mau" ou "Éramos Seis", teríamos de aguentar "A Cabana do Pai Tomás".
O SBT, chegado a uma "latinidad", trocaria Ana Paula Arósio por Salma Hayek e Sonia Lima por Thalia. A Manchete iria buscar na tumba atrizes como Marylin Chambers ou Linda Lovelace para suas cenas de sexo anal, enquanto a TV Plus anuncia a sua nova bobagem eletrônica, com o elenco de "Dallas" ou "Dinastia", com Linda Evans fazendo o papel que Betty Faria, se me permitem o trocadilho.
Na Globo, Winona Ryder, com seu sotaque caipira, seria a mais requisitada, pois teria de substituir Natália Lage na novela das seis, Letícia Spiller na das sete e Adriana Esteves na das oito.
No lugar dos galãs do momento, cujo talento não chega a ultrapassar a capacidade de fazer um gostoso Miojo, entraria o similar internacional Keanu Reeves, jamais um Brad Pitt ou Johnny Depp, comprovadamente galãs de talento. Não aqui. Quanto mais burro mais trabalha. É só ler as entrevistas dos nossos heróis para ver que nada melhor para substituir um surfista do que outro surfista. E havaiano.
Chega de intervalo, e Danny DeVito tomou o lugar do baixinho da Kaiser, enquanto Cher anuncia as qualidades das cartilagens de tubarão e do dermopatch.
Na tela surge Tony Little, com suas geringonças de perder a barriga: ele é o novo dono da "Malhação", com aquela apresentadora do "Years Away" no lugar de Renata Fronzi. Uma enorme bunda substituiria o resto do elenco.
Domingo à noite, e começa o terrível "Sai de Baixo". Chaves entrou no lugar de Tom Cavalcante e Chiquinha é a nova empregada, depois de dona Florinda, Kiko e sr. Barriga terem tentado a vaga.
Mas isso não é o pior. Os atores mais velhos continuariam sem trabalhar. Lauren Bacall ou Sofia Loren teriam de se contentar em fazer papéis minúsculos, como nossas atrizes mais velhas o fazem agora. Jack Lemmon e Anthony Hopkins, então, conseguiriam no máximo um "Você Decide". Mas nenhum dos dois como protagonista.
Astros como Glenn Close, Dustin Hoffman ou Emma Thompson não seriam sequer contratados pois não têm o chamado padrão de qualidade, e a turma do Monty Python morreria de fome, pois seu humor inteligente não é entendido pelas cabeças ocas que dirigem a nossa TV.
Agora, brincadeiras à parte, vamos cair na real. Ninguém precisa ficar preocupado, porque se as nossas emissoras não pagam nem a ponte aérea de seus contratados, como qualquer empresa faz, quanto mais pagar atores estrangeiros para trabalhar. Tá bom. Me engana que eu gosto.

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