São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vieira teve 51% dos votos no 2º turno

LÉO GERCHMANN; CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

O governador Paulo Afonso Evangelista Vieira (PMDB), 39, não deixou para terceiros aquilo que considera ser uma tarefa sua: comandou pessoalmente todas as negociações políticas nas últimas horas que o separavam da votação do seu próprio impeachment, marcada para hoje.
Vieira manteve a calma na busca de um único voto, fora do PMDB e do PFL, que seria a salvação do seu mandato.
As demonstrações de serenidade do governador catarinense têm surpreendido até os seus assessores mais próximos.
Em plena tensão generalizada daquele que deve ter sido um dos fins-de-semana mais difíceis da sua vida, foi o governador, à beira de um impeachment, quem tranquilizou quase todos que o rodeiam.
Provavelmente só não tenha causado surpresa aos seus parentes. A sua mulher, a pediatra Elianne Vieira, 40, costuma dizer que a principal característica de Vieira é ser incansável na busca do que deseja e do que acha justo.
Acusado de emitir títulos irregularmente e ameaçado de impeachment até por ex-aliados, Vieira continua sendo o mesmo: na sexta-feira, deu entrevistas dizendo que terá os votos necessários para escapar da punição. No mesmo dia em que o PFL decidiu fechar questão a favor do impeachment.
Não deixa nem de levar os filhos para a escola. Parece que o seu mundo está na mais perfeita normalidade.
Pai de cinco filhos -o mais novo com um ano e meio e a mais velha com 12- o marido de Elianne Vieira, com quem começou a namorar aos 16 anos (ela tinha 17), ainda na época da escola, é o governador mais jovem do Brasil.
Funcionário licenciado
A sua carreira política se iniciou em 1986, quando, aos 28 anos, foi eleito deputado estadual pelo PMDB. Aos 29 anos, foi secretário estadual da Fazenda.
Em 1990, arriscou-se pela primeira vez com uma candidatura ao governo do Estado. Precisou esperar quatro anos para chegar ao cargo, com 50,8% dos votos (1,288 milhão) no segundo turno das eleições.
Em 1980, formou-se em direito na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em 1980.
No ano seguinte, entrou para o mestrado em ciência política, pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA). O seu trabalho final, concluído em 1983, teve como tema o "Processo de Redemocratização do Brasil".
Vieira trabalhou como fiscal de tributos estaduais. Ingressou na carreira por concurso e hoje está licenciado.
Além da calma, outra característica do governador é a simplicidade. Vieira gosta de ler revistas em quadrinhos, especialmente as da Turma da Mônica.
As preferências musicais do governador são ecléticas: vão de Chitãozinho e Xororó até Chico Buarque e Elis Regina.
Vieira é piauiense de Teresina, mas aos seis meses já morava em Santa Catarina.
Tem a mania de se pentear antes de aparecer em público. No esporte, gosta de vôlei e tênis. Na literatura, nada o marcou. No cinema, gostou de ver a adaptação do romance "A Casa dos Espíritos", de Isabel Allende.
Como a grande maioria dos peemedebistas, diz admirar Ulisses Guimarães.
O dia "D"
O governador deve assistir à votação de seu impeachment no Palácio Santa Catarina, sede do Executivo estadual.
O palácio fica a cerca de cem metros da Assembléia Legislativa, no centro de Florianópolis.
Se for vitorioso, Vieira planeja comemorar o resultado com os manifestantes que o apóiam. As emissoras de TV e de rádio transmitirão a votação. O PMDB quer reunir 50 mil pessoas na praça Tancredo Neves, entre o palácio e a Assembléia.
Os partidários do impeachment acreditam que conseguirão mobilizar cerca de 5.000 manifestantes. Os dois lados admitem que pode haver confronto.

Colaborou Carlos Alberto de Souza, da Agência Folha em Florianópolis

Texto Anterior: Tucano pode assumir o governo
Próximo Texto: Supremo vai julgar pedido de liminar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.