São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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Leia a íntegra do pronunciamento feito na TV

A seguir, o pronunciamento do presidente da República em cadeia nacional de rádio e TV.
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Boa noite. O Brasil continua mudando. Para melhor. Desde o início de 1994, a economia cresceu quase 14%. A inflação continua caindo. O povo, cada vez mais consciente, reivindica mais. E com razão. Dentro da democracia. Para criarmos uma sociedade mais igualitária e mais justa. É nesse clima, de otimismo, que desejo recordar que amanhã o Plano Real completa três anos.
De todas as vantagens do Real a que mais fala ao meu coração é ter permitido que cerca de 13 milhões de pessoas ultrapassassem a linha da pobreza. Em 1994, 33% da população eram pobres: em 1996, eles já haviam diminuído para 25%. Na mesma linha, a taxa de mortalidade infantil caiu 40% nos municípios do Nordeste incluídos no Comunidade Solidária. E a matrícula do segundo grau aumentou 14% nos dois últimos anos, mostrando que estamos aos poucos vencendo a luta contra a evasão escolar e a repetência.
É preciso avançar mais ainda. Os brasileiros não admitem que um país com as riquezas e as potencialidades do nosso tenha ainda tanta injustiça, tanto desrespeito aos direitos humanos, o primeiro dos quais, o direito a uma vida decente. Com o Real, a renda dos mais ricos caiu proporcionalmente um pouco e a dos pobres subiu um pouco.
Nada disso seria possível no estado de desorganização em que vivíamos na época da inflação. Todos lembram do tempo em que o salário do trabalhador derretia no bolso, que o empresário não investia, que o Brasil era desacreditado lá fora e o governo não podia investir em obras importantes para o povo. Graças ao Real, tudo isso é passado. Por isso, meu governo tem um compromisso: manter a inflação sob controle, investir para continuarmos crescendo e, sobretudo, para melhorar a vida das pessoas. As pessoas -isso vale para todos, para você e para mim- só se sentem felizes quando acreditam no futuro. É importante sentir que o Brasil tem rumo, que o rumo está certo e que nós nos orgulhamos do nosso país.
Para isso, preciso que haja oferta de emprego, boas oportunidades educacionais, acesso aos serviços de saúde, casa para morar, terra para plantar. É esse o futuro do Real. E o Real tem futuro.
As estatísticas não mostram uma escalada do desemprego aberto. Mas em certas áreas, por causa de inovações tecnológicas -que são indispensáveis para baratear a produção- e pelo deslocamento de empresas para outras regiões, o desemprego atormenta as famílias. Por mais que a iniciativa privada e o governo façam, o setor industrial não dá mais conta de oferecer empregos na proporção da demanda.
A redução no emprego industrial foi mais no eixo Rio-São Paulo, enquanto que a expansão da indústria está-se dando no Nordeste, em Minas e no Sul.
Diante desse quadro, a ação do governo tem sido objetiva e diversificada. Em primeiro lugar, mantendo a economia na rota segura do crescimento sustentável e fomentando os setores que empregam muita mão-de-obra. O Brasil está investindo na área social e na infra-estrutura, só em 1997 cerca de R$ 31 bilhões, no programa "Brasil em Ação". Estamos dinamizando a construção civil: a Caixa Econômica Federal estará assinando mais ou menos mil contratos de financiamento de casas por dia. Estamos construindo usinas hidrelétricas e termoelétricas, gasodutos, estradas etc. Só para dar dois exemplos: a duplicação da Fernão Dias entre Belo Horizonte e São Paulo, a da BR-116 de São Paulo ao Paraná e da BR-101, ligando Santa Catarina ao Rio Grande do Sul, a maior obra viária em andamento no mundo. Retomamos, ainda, com recursos do BNDES, os metrôs de várias cidades, inclusive Rio, São Paulo e Brasília.
Mas não são apenas as obras físicas que contam para combater o desemprego e para criar novas oportunidades de desenvolvimento econômico. Estamos também utilizando recursos do Fundo de Assistência ao Trabalhador -o FAT- em vários programas de qualificação e retreinamento para que os trabalhadores possam deslocar-se para novos empregos.
Na área rural, o governo, além de estar fazendo grande esforço para assentar mais de 50 mil famílias por ano nos programas de reforma agrária -contra a média histórica de apenas 12 mil famílias- e de ter securitizado a dívida dos agricultores junto aos bancos, criou o Pronaf, que é um programa de apoio à agricultura familiar com empréstimos a juros de 6,5% ao ano, isto é, quase zero se tomarmos em conta a inflação. Em 1995, o Pronaf atendeu 19 mil famílias; em 1996, 333 mil famílias. Este ano dispomos de R$ 1,5 bilhão, podendo atender 600 mil famílias. Os dados do Proger (rural e urbano), que é um programa para gerar empregos apoiando a pequena e média empresa, também são expressivos, com um dispêndio de R$ 2,6 bilhões (70% no campo) gerando 570 mil empregos, notadamente, através do Banco do Nordeste, com o programa "agentes de desenvolvimento". O banco, que fazia 20 mil contratos por ano, hoje faz 20 mil por mês. Por tudo isso, eu quero que você que está me ouvindo saiba que a nossa economia não só está estável, mas está também crescendo, para permitir que você e seus filhos possam viver melhor. Para continuar crescendo e combater as injustiças que existem em nosso país, eu preciso do esforço de todos. E conto com a sua compreensão. Preciso principalmente que o Congresso vote as reformas que permitirão acelerar o crescimento, diminuindo o endividamento do governo e, com isso, as taxas de juros.
Se alguém lhe disser que a reforma da Previdência é para tirar direitos dos aposentados, não acredite. Dei instruções aos líderes do governo no Senado para apoiarem o relatório do senador Beni Veras. Na proposta do relator vai ficar claro que o valor real da aposentadoria será mantido, de modo que nunca mais ocorra o que houve na época da inflação, quando tudo subia menos as pensões e as aposentadorias. Tanto com a reforma da Previdência quanto com a da administração o que eu quero é acabar com os abusos, com os privilégios.
O bom funcionário, a imensa maioria do povo que trabalha nas empresas, nada tem a temer ou a perder com as reformas. Mas você acha justo que 4.800 servidores públicos ganhem em média R$ 21 mil por mês? Enquanto isso, a maioria ganha mal e o governo não tem recursos para dar-lhes aumento. Por isso, pedi que houvesse um teto salarial e um subteto para que os governadores e prefeitos possam coibir abusos. Infelizmente, a minoria da Câmara derrubou o subteto. Mas no Senado nós vamos tentar corrigir isso.
Agradeço a sua paciência de ouvir-me. Mas no aniversário do Real, mais do que comemorar, eu queria me comunicar com o país, para dizer que continuo confiante em nosso futuro, trabalhando muito e sabendo que, se nem tudo está resolvido, se ainda há tantas dificuldades na vida de cada um, nós estamos trabalhando para criar uma economia mais próspera, e o que que é mais importante, uma sociedade mais justa, e melhor para cada um dos brasileiros. Obrigado.

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