São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Viciada em trabalho', a cidade não pára

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

Hong Kong, em seus primeiros minutos de China, misturou momentos de normalidade e clima de carnaval. A cidade confirmou sua fama de "viciada em trabalho" e não parou nem durante a cerimônia de devolução.
"O motor aqui é o dinheiro, prefiro trabalhar a me divertir", explicava o taxista Choi Kar Foo, que levava a reportagem da Folha à manifestação do Partido Democrático, realizada no centro de Hong Kong. "Também não sei se tenho motivo para comemorar, há muito tempo já me acostumei com a idéia de viver na China."
Enquanto táxis buscavam passageiros, restaurantes recebiam clientes e alguns escritórios solitários insistiam em trabalhar, hotéis e salões de festa despejavam nas ruas as pessoas com o fim de banquetes ou bailes.
O Partido Democrático promovia um protesto no centro de Hong Kong e seu líder, Martin Lee, discursava, quando homens e mulheres em trajes sociais começaram a compor a multidão. Eles acabavam de deixar o banquete realizado no Mandarin Hotel, um dos mais sofisticados do território.
"Fantástico!", disse o economista britânico John Kazer, que mora em Hong Kong há três anos. "Saio de um banquete e entro num comício, isso nem parece a China."
A estudante universitária Janice Lau, 21, mostrou apreensão. "Estou preocupada com a possibilidade de, um dia, não podermos mais participar de manifestações como esta", disse. "O governo chinês não faz nada agora porque sabe que o mundo inteiro está olhando para Hong Kong."
Na estação de metrô Central, próxima ao local da manifestação do Partido Democrático, chineses de Hong Kong que compravam bilhetes carregavam a bandeira vermelha da China. "É um momento de glória para nós, o fim de uma era de injustiça", disse o comerciante Andrew Kwok, 34.
Perguntado se teme a mão pesada do Partido Comunista chinês, Kwok respondeu: "Os britânicos só se preocuparam em implantar democracia nos últimos anos e agora criticam Pequim. Pode deixar que nós, chineses, nos entendemos".
(JS)

Texto Anterior: China recupera Hong Kong depois de 156 anos e se livra do colonialismo britânico
Próximo Texto: Charles e líder chinês trocam farpas em discursos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.