São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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O bode expiatório

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - O processo de impeachment do governador de Santa Catarina, Paulo Afonso Vieira, é uma aula de política.
A CPI da Assembléia Legislativa ouviu depoimentos, colheu provas e chegou a conclusões com uma eficiência, digamos, exemplar. Nem esperou a CPI do Senado.
Desde então, o que se discute é se o PMDB mantém o governo, o que sobra para o PFL, como será a nova correlação de forças -e de cargos.
Se o sujeito é culpado, e em que grau, parece que pouco importa. O que vale mesmo é sua capacidade de arregimentar, ou não, os votos necessários para se manter no governo.
Por tudo o que Roberto Requião e outros senadores da CPI federal dizem, a origem do esquemão dos precatórios é a Prefeitura de São Paulo, com Paulo Maluf prefeito e Celso Pitta secretário das Finanças.
Foi ali, diz a CPI, que se criou a "tecnologia" do assalto aos cofres públicos com a desculpa esfarrapada de pagar dívidas judiciais. Deu certo e o fio se estendeu para Pernambuco e Alagoas, além de Santa Catarina.
Maluf, Miguel Arraes e Divaldo Suruagy, porém, são diferentes do novato Paulo Afonso: velhos profissionais da política, já foram de tudo um pouco. São "cobras criadas", como se diz.
O governo de Arraes meteu a mão na cumbuca dos precatórios, mas conquistou o apoio velado do governo federal e ninguém fala em afastá-lo.
Para Suruagy, essa história de precatório é fichinha. O que dizer do desmando, do colapso das contas públicas, do atraso de dez meses no pagamento do funcionalismo, do clima generalizado de impunidade?
Pois bem. Pitta anda meio abalado com o bloqueio de seus bens, mas não se cogita de impeachment. Suruagy reuniu a maioria da Assembléia e, antes de mais nada, garantiu o mandato. Arraes mal aparece no noticiário. Maluf nem foi depor.
Paulo Afonso, enfim, é o bode expiatório. Não que seja santo. Nem que deva ser absolvido.
Mas a pergunta que ele fez, ao vivo e em cores, não me sai da cabeça: "Por que só eu?"

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