São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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Brasil cai no ranking de educação e saúde

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ser apenas o 90º país do mundo em grau de alfabetização de adultos ou o 103º em esperança de vida já é ruim. Mas cair para 93º e 107º é ainda pior. Foi o que ocorreu com o Brasil entre 1993 e 1994.
A comparação foi feita pela Folha a partir dos dados publicados nos dois últimos relatórios anuais do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
O documento deste ano trouxe os indicadores de saúde e educação de 175 países para 1994, e o do ano passado, os dados de 1993.
O Brasil perdeu postos na classificação porque, apesar de ter melhorado seu desempenho em saúde e educação, o fez num ritmo mais lento do que os outros países.
Destaca-se no caso brasileiro o contraste entre os indicadores econômicos e sociais.
No ranking do PIB (Produto Interno Bruto) per capita real, o Brasil sobe para 68º.
Esse indicador é ajustado pelo Banco Mundial de modo a que o valor de US$ 1,00 compre os mesmos bens em todos os países.
Em dólares, isso significa que o conjunto de tudo que é produzido no país durante um ano, dividido pela população, dá US$ 5.362,00 para cada brasileiro. Mas essa média mascara a péssima distribuição de renda no país.
O próprio relatório do Pnud mostra que, entre 1971 e 1989, a renda per capita brasileira cresceu mais de 3% ao ano, enquanto a taxa de crescimento dos rendimentos dos 20% mais pobres subiu cerca de 1% ao ano. Ou seja: aumentou a concentração de renda.
É claro que isso não ocorreu sem consequências para o bem-estar da população. A expectativa de vida do brasileiro ao nascer, de 66,4 anos, é inferior à de quase todos os países latino-americanos.
Com maior tradição em saúde pública, os vizinhos Argentina e Uruguai proporcionam a seus moradores até seis anos a mais de vida do que o Brasil. Mesmo no Paraguai a perspectiva de sobrevivência é maior: 68,8 anos.
Causas
Os especialistas apontam três causas para a queda brasileira no ranking: mortes por causas violentas nos grandes centros, por doenças infecto-contagiosas nas regiões pobres e por doenças crônicas na áreas mais ricas.
"Ainda não resolvemos o problema das doenças infecciosas (como diarréia) e já enfrentamos outro: o das doenças não-contagiosas (câncer), típicas de países desenvolvidos", diz o demógrafo Celso Simões, do IBGE.
Essa transição do padrão epidemiológico está ocorrendo em quase todos os países em desenvolvimento, constata o relatório 1997 da Organização Mundial de Saúde.
Pior dos mundos
Em outras palavras: o envelhecimento da população mundial leva países como o Brasil ao pior dos mundos. Têm que combater, ao mesmo tempo, as doenças "de pobre", que matam jovens, e as "de rico", que atingem os mais idosos.
No caso brasileiro a violência no trânsito e os assassinatos de jovens também têm diminuído a expectativa de vida.
Simões calcula que as mortes pelas chamadas causas externas roubam quatro anos de vida, em média, dos moradores dos Estados do Sudeste do Brasil.
"O Brasil tem desafios acumulados: a violência, as doenças infecciosas e as não-contagiosas", afirma o médico Marcos Drumond, do Pro-Aim -órgão que estuda a mortalidade em São Paulo.
"E a política social de combate a esses problemas é absolutamente tímida", completa.
Ele lembra que as mortes antes da criança completar um ano ainda são muito altas.
Uma das causas desses óbitos é a ignorância da mãe sobre procedimentos na gravidez e parto, lembra Drumond. Completa-se o círculo: com 16,3% de adultos analfabetos, o Brasil está condenado a sofrer muitas mortes evitáveis.

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