São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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Alberto supera culpa em novo livro

MIGUEL MORA
DO "EL PAÍS"

Eliseo Alberto, nascido em 1951, começou a duvidar da Revolução Cubana em 1978. Estava servindo o Exército e lhe solicitaram que escrevesse um informe sobre a sua família: o que eles falavam, com quem, o que pensavam...
O soldado Alberto não só escreveu o informe como disse a seu pai, o poeta Eliseo Diego: "Vou escrever contra vocês".
Essa culpa permaneceu por quase 20 anos na cabeça do poeta, romancista ("La Eternidad por Fin Comienza un Lunes") e roteirista de cinema ("Guantanamera").
Agora, o acontecimento dá título a "um livro triste, mas escrito sem ódio, a favor da minha família, dos meus amigos e de toda a ilha".
O título do livro é "Informe contra Mí Mismo" (editora Alfaguara) e foi apresentado no começo de junho em Madri pelo escritor Gonzalo Celorio y Joaquín Estefanía, que comparou o impacto causado pela sua leitura ao do livro "Antes que Anochezca", do cubano Reynaldo Arenas.
Mas, segundo Alberto, seu livro está relacionado com um verso de Martí, "Amar, Essa É a Crítica", e é dirigido "tanto aos apologistas da virtude como aos dos defeitos".
Suas lembranças remontam ao "primeiro concerto de Silvio em Havana, em 1967, quando, depois de vender a imagem dos barbudos e do cabelo comprido de Che, o governo mandou que os policiais saíssem às ruas com tesouras para cortar o cabelo dos jovens só porque Bob Dylan, os Beatles e os Rolling Stones também usavam cabelos compridos".
No meio de tudo isso, o escritor -que trabalhou na Escola de Cinema de Cuba com seu amigo Gabriel García Márquez- mistura dramáticas lembranças pessoais, anedotas surrealistas, poemas ardentes e homenagens "a essa minúscula república das letras cubanas: dois romancistas, três poetas, seis dançarinas e três rumbeiras".
Tudo dentro do ambiente da ilha: "A única coisa que fiz na minha vida foi receber e me despedir das pessoas".
Mas "o melhor do livro", brinca o autor, "é que inclui as críticas dos meus amigos". Porque "Informe contra Mí Mismo" já viajou a Miami e Havana, onde chegou procedente do México.
É lá que mora Alberto -"em um 14º andar com minha filha de 13 anos"-, no que ele denomina "um exílio de veludo".
"Até agora, foi possível voltar a Cuba todos os anos para visitar minha mãe e minha irmã gêmea. Mas atualmente temo não poder mais voltar."

Tradução Maria Carbajal

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