São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Suíte Lírica" foi ponto alto

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

A última apresentação do quarteto Alban Berg, hoje, infelizmente não corre o risco de repetir o erro de programa do primeiro dia. O quarteto não toca nada de Alban Berg, apenas obras de Schubert.
Na quarta-feira, dia da primeira apresentação, a Suíte Lírica de Berg foi o ponto alto do concerto. Mas ficou espremido entre duas peças de Schubert. A peça final de Schubert soou diluída e exasperantemente longa para o tanto de idéias que contém.
É que a Suíte Lírica de Berg alia o rigor formal da composição clássica com as possibilidades então promissoras do dodecafonismo e a liberdade da exploração de recursos sonoros que caracterizou a música do século 20.
Perto dela, o romantismo e a estrutura de composição retórica e evocativa de Schubert soam repetitivas e, frequentemente, vazias.
O espírito mesmo do Quarteto Alban Berg o torna muito mais convincente tocando Berg do que Schubert. A precisão e o rigor de ritmos e articulação e a contenção dinâmica do quarteto se adaptam muito melhor a uma composição de estrutura mais cerrada.
Schubert, exímio criador de melodias e grande harmonista, pede um conjunto mais propenso a arrebatamentos.
O desenvolvimento de suas peças se baseia na exploração de evocações sugeridas pelos temas.
Funciona com ouvintes dispostos a se deixar levar. Resiste mal a uma interpretação muito estrita como a do quarteto Alban Berg, que deixa muito a nu a pouca densidade da composição.
No programa de hoje, porém, livre de comparações, o Schubert do Alban Berg deve soar surpreendente para os ouvintes habituais do compositor.
É curioso se dedicar a ouvir um romântico exacerbado que compunha impulsivamente numa interpretação mais analítica.
Na apresentação de quarta-feira,
o primeiro-violino de Günther Pichler não soou tão bem como devia. Pichler chegou a ter falhas de afinação.
O primeiro plano foi ocupado pelo violoncelo de Valentim Erben. Até ajudado pelo repertório. A melodia cuja execução fica a seu cargo executar no quarteto nº 15 de Schubert é o melhor da peça.

Concerto: Quarteto Alban Berg
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616) Quando:hoje, às 21h Quanto: de R$ 30 a R$ 60

Texto Anterior: SP e Santos produzem 'As Bodas de Fígaro'
Próximo Texto: Quarteto domina sua grandeza
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.