São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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TRABALHISMO BRITÂNICO

A primeira medida concreta do novo governo trabalhista britânico, chefiado por Tony Blair, sugere que a tese de uma total indiferenciação entre direita e esquerda (ou centro-esquerda) não é inteiramente válida, pelo menos na Europa.
Ao enviar ao Parlamento a sua proposta orçamentária, primeiro ato do novo governo que implica definições políticas, Blair adotou um comportamento típico da esquerda: taxa o capital em benefício da área social.
É verdade que a taxação incidirá uma única vez e não sobre o capital, indiscriminadamente, mas sobre os lucros das empresas privatizadas. Mesmo assim, os recursos que o governo conta recolher não são desprezíveis: cerca de R$ 8,6 bilhões.
É mais, por exemplo, do que o governo brasileiro espera arrecadar com a criticada CPMF, que incide sobre toda a movimentação financeira de pobres ou de ricos, de empresas ou de pessoas físicas. Além disso, os trabalhistas usam uma clássica tese de centro-esquerda para estimular o mercado de trabalho: aloca verbas públicas, à razão de 75 libras por semana (quase cinco salários mínimos brasileiros por mês), para empresas que contratarem pessoas desempregadas há muito tempo.
É, ao contrário da teoria liberal, a mão visível do Estado agindo para corrigir supostas ou reais deficiências do mercado.
É prematuro tomar o Orçamento de Blair como um sinal de uma reversão ampla na tendência neoliberal predominante no mundo e que, aliás, teve o seu epicentro justamente no Reino Unido, durante o reinado conservador de 18 anos.
No entanto, não parece prematuro afirmar que o Orçamento dos trabalhistas britânicos demonstra, na prática, que a Europa, mesmo a porção dela que mais avançou nas reformas pregadas pelo liberalismo, esforça-se para preservar o máximo de seu Estado de Bem-Estar Social, exatamente o seu maior orgulho.

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