São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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Baht já é demais

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Celso Pinto estava, anteontem, dando uma aula, impecável como quase sempre, sobre os eventuais riscos para o Plano Real até a eleição de 1998.
Citou, basicamente, dois: uma alta de juros nos EUA, que faria o pessoal preferir deixar o dinheiro por lá mesmo, retirando-o ou deixando de enviá-lo aos países ditos emergentes (e que, às vezes, acabam submergindo). E um desastre internacional, tipo México, que poderia ocorrer, por exemplo, na Tailândia.
Nessa hipótese, os investidores que perdessem dinheiro na Tailândia tratariam de recuperá-lo em outros mercados, eventualmente o brasileiro.
Carlos Heitor Cony brincou: "Quer dizer que, além de todos os problemas que já tenho, preciso me preocupar também com o baht?", em alusão à moeda tailandesa.
Não demorou muito para o baht submergir, transformando a brincadeira de Cony em uma pequena síntese da realidade do mundo moderno: nenhum lugar é longe demais.
Sou do tempo em que Afeganistão era mero verbete de aula de geografia. "Afeganistão, capital Cabul", era tudo o que tínhamos que aprender.
Depois, o Afeganistão passou a ser mais um dos peões no xadrez da Guerra Fria e, no momento, cenário da mais nova ofensiva do fundamentalismo islâmico. Taleban (a milícia fundamentalista afegã), como o baht tailandês, deixou de ser algo absolutamente esotérico.
Talvez essas novas circunstâncias ajudem a explicar a perplexidade com que o cidadão comum (e mesmo muitos cidadãos não tão comuns, como os governantes) encaram o mundo contemporâneo. Enquanto tudo se circunscrevia ao Brás, Barra Funda e adjacências, estendendo-se quanto muito a Paris ou Nova York, a vida era fácil. O mundo parecia mais sob controle.
Por isso, fico solidário com o Cony. Nunca vi a cor de um baht e tenho que me preocupar com o destino dele?

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