São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A acupuntura ficou científica

ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA

Técnica oriental misturada à alopatia é usado contra a dor e para ajudar a ação dos remédios
A acupuntura, antes considerada um "tratamento alternativo", conquistou o status de científica e obteve o aval da medicina no tratamento de doenças que vão do asma à prevenção do infarto.
As pesquisas vêm comprovando a eficácia desse tipo de tratamento, conjugado com a ação de remédios, em diversos distúrbios como stress, depressão, enxaqueca, mal de Alzheimer, asma, artrite, arritmia cardíaca, úlcera gástrica, hipertensão, hepatite, disfunção menstrual e impotência.
"A acupuntura passou pelo crivo da pesquisa científica antes de ser incorporada pela medicina ocidental. A medicina 'alternativa' não existe: ou é medicina ou não é", diz Paulo Farber, 36, diretor do Centro de Estudos em Acupuntura Científica da USP.
A acupuntura é a injeção de uma agulha em pontos do corpo onde há terminações nervosas. A agulha em geral é feita de dois metais -prata ou cobre com aço inoxidável-, que criam uma corrente elétrica que é descarregada no nervo. Essa descarga elétrica vai para a medula, depois sendo enviada para a região do cérebro que controla a função que o tratamento deseja atingir.
Diferentemente do que se pensa, a acupuntura não dói. Muito mais delicadas, as agulhas usadas na acupuntura fazem com que as de injeção pareçam britadeiras. A única sensação levemente desagradável é quando a agulha alcança a terminação nervosa dando uma pequena sensação de choque elétrico. As agulhas em geral são retiradas após alguns minutos.
As aplicações da acupuntura científica são, em primeiro lugar, a modulação do sistema neuroimunoendócrino. Por exemplo: se a pessoa está com uma depressão imunitária -seu sistema de defesa está em baixa- a acupuntura corrige esse desvio.
Em segundo lugar, a acupuntura faz uma vasodilatação em áreas do corpo. Quando uma região está infectada, o sistema de defesa do corpo isola a área, fechando as veias perto da parte infectada. A vasodilatação permite que o remédio acesse a área e tenha efeito.
Em terceiro lugar, a acupuntura estimula funções fisiológicas como a dilatação dos brônquios e a modulação da dor. Por exemplo: consegue-se acessar o sistema nervoso para modular a função imune, fazendo com que a pessoa sinta menos dor e se torne mais resistente à ela.
Partos
Um uso interessante da acupuntura como estímulo às funções fisiológicas é a indução de parto. Quando a mulher está sem contração uterina e o bebê precisa nascer, coloca-se uma plaquinha no tornozelo, em cima de um dos pontos de acupuntura, e outra na mão, ligados a um aparelho. Depois de uma hora e meia começam as contrações de útero. Depois de seis, oito horas começa o trabalho de parto. Os resultados obtidos foram de 75% de indução apenas com a estimulação elétrica sobre pontos de acupuntura.
Mas o fato de a eficácia da acupuntura ter sido comprovada cientificamente não significa que pode ser usada aleatoriamente. Farber alerta que para ser um acupuntor é necessário ter conhecimentos da fisiologia do corpo. "O acupuntor não precisa ser formado em medicina, mas o tratamento precisa ter acompanhamento médico", afirma.
O problema é que, se a pessoa tem uma infecção e faz apenas acupuntura, a dor diminui, mas a vasodilatação causada pelo tratamento faz com que as bactérias ou vírus se espalhem por todo o corpo, agravando o caso. O ideal, portanto, é uma ação conjunta de acupuntura e remédios alopáticos.
Farber, que está lançando o livro "A Medicina do Século 21 - A União Definitiva entre Medicina Ocidental e Oriental", pela Editora Roca, afirma que a acupuntura hoje em dia é bem aceita. "Antes, as pessoas eram preconceituosas, mas em geral era porque não conheciam o tratamento. Muitos achavam que era algo 'místico', mas não é: a acupuntura é coisa séria."

ONDE ENCONTRAR: Ceac (Centro de Estudos de Acupuntura Científica). Tel. 864-8548.

Texto Anterior: Mundo animal
Próximo Texto: Férias-Mala
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.