São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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"Parecia um filme de terror"

"Abracei minha mãe. Vi a fumaça. Ela não queria que eu olhasse porque podia ver pessoas feridas e ela não queria que eu ficasse traumatizada.
Ela me disse: 'Vamos ficar juntas, morrer juntas'. A gente pensou: 'Não tem chance de a gente viver'. O avião podia se desfazer e a gente cair. O avião foi muito forte. Podia ter partido. Um pedaço de carpete foi jogado em cima de mim.
A aeromoça falou que faríamos um pouso de emergência e que deveríamos tirar brincos, anéis, qualquer coisa de metal.
Fui tirando tudo e jogando na bolsa da minha mãe. Ela pegou a bolsa e enrolou na perna porque todo o dinheiro estava ali.
A aeromoça mostrou a posição que deveríamos ficar, com a cabeça apoiada para a frente. Parecia um filme de terror.
Ouvimos funcionários falando que, se fosse bomba, teriam de abafar, se não amanhã teria muito maluco ligando e falando que foi ele quem pôs a bomba ou que iria pôr uma bomba.
Quando a gente viu que teve gente que morreu, imaginamos essa pessoa sendo tragada pelo vento. Eles não contaram os passageiros na saída. Depois ficou difícil de saber se alguém estava faltando."
Kelly de Souza, 16, estudante, mora em Vila Velha, no Espírito Santo, e viajou a São Paulo com a mãe, Amélia Rosa da Silva.

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