São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Mortos em cadeias do Rio são 18 em 4 meses

MÁRIO MOREIRA
e SERGIO TORRES

MÁRIO MOREIRA; SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Sindicato dos servidores da secretaria de Justiça do Estado do Rio denuncia existência de 'guerra' de facções

A "guerra" entre facções rivais nos presídios do Rio fez 18 mortos só nos últimos quatro meses. A disputa entre os grupos teve início no começo do ano.
A denúncia foi feita pelo Sindicato dos Servidores da Secretaria de Justiça e Interior do Estado do Rio.
No dia 13 de março passado, o secretário estadual de Justiça, desembargador Jorge Loretti, recebeu ofício do sindicato alertando para a existência de confrontos entre presidiários de facções rivais.
Assinado pelo presidente da entidade, Francisco Rodrigues Rosa, o ofício (número 101/97) pedia providências para "evitar um banho de sangue entre internos do Terceiro Comando Jovem e Comando Vermelho Jovem".
Realidade
Rosa disse que Loretti encaminhou o assunto ao Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário), que concluiu ser equivocada a denúncia do sindicato.
Loretti afirmou ontem à Folha que o alerta feito pelos servidores "não tinha nenhuma justificativa". "Sempre estamos alertas, porque essas coisas (mortes em presídios) são sempre esperadas."
A realidade mostra que o Desipe errou em sua avaliação.
Desde que enviou o ofício ao secretário, o sindicato já contabiliza 18 assassinatos no sistema carcerário do Rio.
"Não sei se as mortes chegam a tanto, mas sei que todas ocorreram por atritos entre os presos", disse Loretti.
Mortes
Seis das mortes ocorreram esta semana (cinco no presídio Bangu 2 e uma no Bangu 1).
Ontem, houve uma nova tentativa de homicídio em Bangu 1. O detento apelidado de Morte sofreu várias queimaduras no rosto e nos dois braços.
Morte afirmou que foi atacado pelo presidiário Edson (o sobrenome do suposto atacante não tinha sido divulgado até o início da noite), que teria jogado um colchão em chamas sobre ele.
Na 34ª DP (Delegacia de Polícia), em Bangu (zona oeste), Edson contou ao delegado Irineu Barroso que recebeu ordem para assassinar Morte. Ele não quis dizer quem deu a ordem.
A relação do sindicato inclui um assassinato em Bangu 1, cinco em Bangu 2, um na penitenciária Lemos de Brito, dois na Milton Dias Moreira, quatro no presídio Hélio Gomes, dois no Ary Franco, um no Esmeraldino Bandeira e dois no Evaristo de Moraes.
Os presídios Bangu 1 e Bangu 2 são considerados de segurança máxima pelo governo do Rio.
"A segurança máxima é para os presos não fugirem, mas eles circulam lá dentro, e os atritos surgem por questões de momento", disse Jorge Loretti.
Precipitação
Para ele, seria uma "precipitação evidente" demitir diretores de presídios antes de chegarem os resultados dos inquéritos criminal e administrativo instaurados para apurar as mortes que ocorreram em Bangu 1 e 2.
O secretário de Justiça afirmou que 300 novos agentes penitenciários estão sendo contratados e que foi feito recentemente um concurso para preencher outras 700 vagas.
O governador do Estado do Rio, Marcello Alencar, classificou como "ficção" a hipótese de os assassinatos terem sido causados por briga de facções.
Alencar determinou a colocação de detectores de metais nas entradas dos presídios, para impedir o ingresso de armas.

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