São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O desafio da Ferronorte

LUÍS NASSIF

Nos próximos dias, deverá estar concluído o plano visando viabilizar a Ferronorte -o primeiro investimento em infra-estrutura com capital privado no país, glória e desespero do grupo Itamarati, do empresário Olacyr de Moraes.
Trata-se de obra relevante para a exploração da última grande fronteira agrícola brasileira.
A concessão tem 5.000 km, com entroncamentos para Porto Velho e Santarém, e um terceiro para Uberlândia, ligando até Vitória e o porto de Sepetiba. Entrando em território paulista, a Ferronorte alugará ramais da Fepasa, permitindo levar a produção até o porto de Santos.
Pelos cálculos do grupo, o preço do soja em Chicago está em US$ 313,06, que equivale a um líquido de US$ 308,65. O preço líquido ao produtor, na região, sai por US$ 188,60. O restante é consumido pelos custos de transporte.
Com a Ferronorte, na primeira etapa (400 km) até Alto Taquari, o líquido para o agricultor sobe para US$ 208,60. Com ferrovia completa o frete cairá para US$ 52,13 e o preço ao produtor subirá para US$ 220,60.
Se, dentro de três anos, a produção da região for de 10 milhões de toneladas, haverá uma renda adicional de US$ 200 milhões só por conta da ferrovia.
A partir desses dados, os estudos da Ferronorte indicam uma taxa média de retorno de 37% ao ano, por 20 anos, sobre a receita líquida. Um retorno de 15% ao ano sobre o capital investido.
Com base nesses números, o grupo tenta completar o leque de investidores capazes de aportar os US$ 600 milhões adicionais para completar a primeira fase das obras.
Já estão prontos 211 km de infra-estrutura (terraplanagem e drenagem), 107 km de terraplanagem em fase conclusão, com pontes e viadutos levantados. Já existe no local uma fábrica de concreto pronta, com capacidade para 2.000 dormentes/dia e 50 km de trilhos já comprados.
Variáveis públicas
Além de erros de gestão e de planejamento, a maior dificuldade para a atração de investimentos residiu em duas variáveis fora de controle do grupo: a ponte rodo-ferroviária de Santa Fé, sobre o rio Paraná, a ser bancada pelo governo federal, e investimentos da Fepasa em seu leito, visando permitir a conexão da Ferronorte com o porto de Santos.
Com as sucessivas interrupções das obras de Santa Fé, os investidores foram recuando e o grupo precisou ampliar sua participação no empreendimento, descapitalizando-se mais ainda. O BNDES entrou com US$ 230 milhões e o Itamarati com US$ 170 milhões. Os US$ 550 milhões da dívida original do grupo acabaram se transformando em US$ 1,1 bilhão, dos quais US$ 290 milhões por conta da Ferronorte.
Agora, há a garantia de se completarem as duas obras. A ponte de Santa Fé já entrou no plano Brasil em Ação. E as obras caminham há um mês sem interrupções.
De seu turno, a Fepasa decidiu investir os US$ 50 milhões necessários para modernizar as linhas e valorizar-se para a privatização.
A idéia da Ferronorte é alugar a linha Fepasa que leva até o porto de Santos. Em 20 anos, esses direitos de uso deverão render US$ 1,2 bilhão à Fepasa, aumentando de 25% a 30% seu valor na privatização.
A solução do caso Ferronorte é a primeira etapa do programa de reestruturação do grupo.

E-mail: lnassif@uol.com.br

Texto Anterior: Tailândia corre atrás dos japoneses
Próximo Texto: Cade adia pela quinta vez julgamento de cervejarias
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.