São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Antonio Farinaci se lança contra a "MPB talentosa"

"Volume 1" marca a estréia do cantor na música

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Citado na mídia pelos shows que tem feito desde 1991, o cantor paulista Antonio Farinaci, 28, chega afinal a seu disco de estréia, "Volume 1".
Ele gravou o CD sozinho, com recursos pessoais ("gastei US$ 15 mil"). De formação inicial em cinema e letras -cursos superiores inconclusos-, Farinaci traz características peculiares ao cenário contemporâneo do pop nacional.
Em primeiro lugar, chega como cantor, só. "Já fiz trilhas para TV, mas não me sinto um compositor. Tenho é um interesse profundo em desenvolver uma linguagem, no meu caso a de intérprete", diz.
Em segundo lugar, diz-se disposto a nunca chamar mais atenção que as composições que interpreta. "Você nunca pode achar que vai melhorar uma composição, o intérprete não pode se colocar em posição superior à obra."
Por fim, põe-se na contracorrente pelo modo de encarar o cenário em que se insere. Diferentemente da maioria dos colegas, acha que as coisas não vão bem na MPB.
"O músico em geral não pensa no que faz, não estuda, acredita em talento, em dom. Para mim, isso é uma bestialidade. Está todo mundo muito talentoso no mau sentido. A MPB hoje é passadista, ouvem-se coisas que não interessam mais a ninguém."
Ele vai mais longe: "Há uma frase do Caetano que na minha opinião estragou toda a MPB, aquela de que se você tem uma idéia incrível basta fazer uma canção. Todo mundo passou a ter idéias incríveis, com um monte de letristas se forçando a ser poetas, fazendo trocadilhos, forçando a barra".
Isso seria, segundo ele, sinônimo de estagnação. "Ouço coisas do pop inglês hoje -jungle, drum'n'bass, Portishead, Everything But the Girl- que são influenciados pela bossa nova e deveriam estar sendo feitas por brasileiros. A música inglesa hoje é mais brasileira que a brasileira."
Assim, Farinaci se vê em crise com a produção contemporânea. "Não há nada novo que eu queira cantar, com que sinta afinidade."
Isso pode explicar a seleção de repertório de "Volume 1", que parte de Noel Rosa ("Silêncio de Um Minuto"), passa por Cauby Peixoto ("Conceição"), Elizeth Cardoso ("Janelas Abertas", de Tom e Vinicius) e chega a Paulinho da Viola ("O Tempo Não Apagou"), Chico ("Até Pensei") e Caetano ("Pecado Original").
As referências mais recentes a que chega são à "Balada da Arrasada" (80), de Angela RoRo ("é uma grande compositora, a única que ainda detona todo mundo"), e a "A Little More Love", do repertório de... Olivia Newton-John.
"Se o Tarantino pôde redescobrir o John Travolta, por que não posso fazer o mesmo com a Olivia Newton-John?", justifica-se.

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