São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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A TENTAÇÃO DE MARTE

Tão espetacular quanto o fato em si, é igualmente assombroso o interesse com que todo o mundo acompanha a missão da sonda espacial Pathfinder e do robô Sojourner em Marte, desde o último dia 4.
Os sucessivos êxitos do projeto, e até mesmo seus tropeços e dificuldades operacionais, são objeto de uma curiosidade que ultrapassa o âmbito puramente científico ou tecnológico. Remete, para além deles, à tentação irreprimível e ancestral do ser humano pelo desconhecido. Há um componente lúdico, até mesmo infantil, na avidez com que o público busca acompanhar as novas descobertas.
É verdade que toda essa coqueluche em torno de Marte foi alimentada durante anos, ou décadas, pelo ambiente cultural norte-americano. O cinema de Hollywood fez dos "marcianos" uma de suas grandes obsessões, uma metáfora de algo ameaçador e ao mesmo irresistível. Todo o investimento ficcional feito anos a fio sobre Marte reaparece agora, em cada pergunta que os cientistas da Nasa procuram responder. Houve ou há formas de vida naquele planeta? Para a maioria das pessoas, não é clara a linha entre ficção e realidade.
Mas, se no mundo da fabulação e das imagens espetaculares do cinema a fantasia ultrapassou qualquer limite, resta saber até onde será capaz de chegar a ousadia da ciência. Os pesquisadores mais otimistas já falam que será possível realizar uma viagem tripulada a Marte em 2.005. Os menos eufóricos fixam 2.012 como o ano mais provável.
Seja como for, o objetivo dessa corrida sem fim é a possibilidade de colonização de Marte. Mas a sede de expandir os poderes humanos traz consigo uma contradição inescapável: o desejo de ocupar a casa do vizinho indica que não conseguimos cuidar bem da nossa própria casa. Os avanços da ciência também podem ser uma forma de esquecimento.

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